Programa - Poster dialogado - PD27.10 - Epidemiologia nutricional de gestantes e grupos vulneráveis
27 DE NOVEMBRO | QUARTA-FEIRA
14:00 - 15:00
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À INSEGURANÇA ALIMENTAR EM FAMÍLIAS INDÍGENAS ALAGOANAS
Pôster dialogado
Almeida, E.R.S1, Santos, T.R.1, Fávaro, T.R.1, Ferreira, H.S.1
1 UFAL
Objetivos: Conhecer a prevalência e os fatores associados à insegurança alimentar (IA) em famílias indígenas do estado de Alagoas.
Métodos: Trata-se de um inquérito transversal de base populacional proveniente do Estudo de Nutrição, Saúde e Segurança Alimentar de Indígenas de Alagoas, o qual avaliou uma amostra probabilística de 1.270 famílias pertencentes às 11 etnias existentes no estado. A variável dependente foi a IA, definida conforme a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Os fatores associados (demográficos, socioeconômicos e ambientais) à IA moderada+grave foram determinados por meio de análise multivariável, usando regressão de Poisson com ajuste robusto da variância (razão de prevalência – RP e seu respectivo intervalo de confiança de 95% - IC95%), seguindo modelo hierarquizado.
Resultados: A prevalência de IA foi de 69,1%, sendo 29,5% nas formas moderada e grave. Os fatores independentemente associados (p<0,05) à IA moderada+grave foram: domicílio ser chefiado por mulher (RP=1,38; IC95%:1,16-1,63); casa de taipa/madeira (RP=1,69; IC95%:1,25-2,28); número de cômodos ≤ 4 (RP=1,47; IC95%:1,18-1,84); escolaridade do chefe de família ≤ 8 anos (5-8 anos: RP=1,80; IC95%:1,38-2,34; ≤ 4 anos: RP=2,02; IC95%:1,61-2,53); chefe do domicílio aposentado (RP=1,73; IC95%1,10-2,73) ou desempregado (RP=1,62; IC95%1,03-2,54); renda total da família < 2 salários mínimos (≤1 salário mínimo: RP=2,00; IC95%1,44-2,76; >1 a 2 salários: RP=1,69; IC95%1,22-2,33).
Conclusões: A prevalência de IA entre os indígenas alagoanos é consideravelmente elevada e associada a piores condições demográficas, socioeconômicas e ambientais. Isso evidencia as iniquidades sociais a que esses povos estão submetidos, enfatizando a necessidade de políticas públicas intersetoriais para reversão desse cenário.
EVOLUÇÃO TEMPORAL DE PARTOS EM MIGRANTES VENEZUELANAS ENTRE 2016 E 2023 EM RORAIMA
Pôster dialogado
Carmo, T.T.1, Carvalho, T.D.G.1, Blengini, P.C.G.S.S.1, Gama, S.G.N.1, Leal, M.C.1
1 ENSP/Fiocruz
Objetivos
Descrever a proporção e as características dos partos de migrantes advindas da Venezuela em Roraima, no período entre 2016 e 2023, segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH).
Métodos
O presente trabalho é uma série temporal dos partos de migrantes venezuelanas no Estado de Roraima no período entre 2016 e 2023. Foram utilizados dados do SIH obtidos pelo DataSUS. Calculou-se proporção de partos de migrantes venezuelanas e suas características.
Resultados
Evidenciou-se um aumento expressivo no percentual de partos de migrantes venezuelanas no Estado de Roraima a partir de 2019, quando alcança seu ápice, com 24,5% dos partos, valor foi bem maior que nos três anos anteriores, 2016 (2,8% dos partos), 2017 (5,6%), 2018 (14,9%). A última atualização do SIH, em 2023, aponta que a proporção dos partos por migrantes venezuelanas permanece elevada, 24,3%.
O perfil etário das venezuelanas se mostra similar durante todo o período analisado, com maioria entre 20 e 24 anos (variando entre 66,4% - 72,5%). A raça/cor das parturientes migrantes foi homogênea, com maioria de mulheres pardas (variando entre 95,8% - 99,8%). O parto vaginal foi a via de parto mais frequente, no período (62,1% em 2017 e 71,6% em 2021).
Conclusão
A proporção de partos de mulheres venezuelanas em Roraima reflete o fenômeno da migração forçada da Venezuela para o Brasil nos últimos anos. O registro de informações em saúde, como o SIH, permite gerar informações relevantes para o planejamento em saúde obstétrica e neonatal, e garantia de acesso à assistência adequada dessa população.
PERFIL DE POSTAGENS COM HASHTAG ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL EM UMA REDE SOCIAL NO BRASIL
Pôster dialogado
Guzelotto, L. C.1, Moreira, C. C.1, Oliveira, A. D.2
1 UFGD
2 UERJ
Objetivos: Avaliar o perfil das postagens que fazem uso de hashtags relacionadas à alimentação saudável em uma das maiores redes sociais no Brasil. Métodos: Foram selecionadas postagens no Instagram® que utilizaram hashtags alimentacaosaudavel, alimentaçaosaudavel, alimentacãosaudável e/ou alimentaçãosaudável. Coleta (29/04/2024) através da ferramenta Phantombuster®, com seleção aleatória das publicações de janeiro-abril. Foram excluídas as que não faziam alusão a alimento. Avaliou-se imagens/legendas das postagens buscando identificar conteúdos relacionados ao nutricionismo, que estimulam ou “demonizam” alimentos baseados na presença de nutrientes isoladamente. O perfil dos responsáveis pelas publicações foi caracterizado em pessoal, profissional ou página de boa forma/saúde. Também foram verificadas postagens contendo receitas culinárias quando possuíam alimentos ultraprocessados em sua composição. Resultados: Ao todo foram avaliadas 93 postagens que utilizaram hashtags alimentacaosaudavel (n=15), alimentaçaosaudavel (n=34), alimentacãosaudável (n=14) e alimentaçãosaudável (n=30). Foram verificadas 70 publicações feitas por páginas de boa forma/saúde (75,27%); 10 por perfil pessoal (10,75%) e 13 por perfil de profissionais de saúde (13,98%). Identificou-se 17 postagens relacionadas ao nutricionismo (18,28%). As receitas culinárias representaram 53,76% (n=50), sendo 38% (n=19) compostas por algum alimento ultraprocessado. Conclusões: O número expressivo de postagens vinculadas a hashtags “alimentação saudável” em páginas de boa forma, que apresentam conteúdos com apelo ao nutricionismo e que contém receitas com ultraprocessados, evidencia a importância de regulamentar e monitorar a publicidade de alimentos no ambiente digital, a fim de mitigar os impactos negativos na saúde dos brasileiros.
PRÁTICAS CORPORAIS/ATIVIDADES FÍSICAS NO VIGITEL 2021 E 2022: REFLEXÕES SOBRE RACISMO
Pôster dialogado
Santos, M.H.1, Santos, G.O.R.2, Palma, A.1
1 UFRJ
2 CEFET/RJ
O Vigitel é um sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis e utiliza de inquérito telefônico para coletar dados. Um dos aspectos coletados diz respeito à realização de atividades físicas em diferentes domínios (tempo livre, ocupacional, doméstica e deslocamento). Entendemos, contudo, que é possível existir uma distribuição desigual entre pessoas de cor branca e negra (pretos e pardos) na realização dos diferentes domínios de atividades físicas.
O objetivo é verificar a distribuição da prática de atividades físicas, nos domínios de lazer, ocupacional e doméstica, entre pessoas autodeclaradas negras e brancas, participantes do Vigitel 2021 e 2022.
Para a análise da distribuição entre aqueles envolvidos ou não com a realização de atividades físicas foi utilizado o Qui-quadrado. Adotou-se o valor de 0,05 para significância estatística.
O tempo total dedicado à prática de atividades físicas no tempo livre não diferiu estatisticamente entre pessoas brancas e negras (113,28 min./sem., 113,76min./sem., respectivamente; p=0,804). Por outro lado, as pessoas negras realizaram mais atividades físicas domésticas (186,70 min./sem., 250,86min./sem., respectivamente; p<0,0001) e ocupacional (86,34 min./sem., 151,87min./sem., respectivamente; p<0,0001).
Os resultados apresentam a população negra mais ativa nos domínios ocupacional e doméstico, o que nos leva a refletir sobre o impacto do racismo na perspectiva do nível de atividade física, pois ser mais ativo no trabalho, por exemplo, pode indicar precariedade e salários menores, e um maior nível de atividade doméstica pode sugerir sobrecarga de atividades para as pessoas negras, já que o nosso modelo de sociedade é racista.
DISTRIBUIÇÃO DO GANHO DE PESO GESTACIONAL EM PAÍSES DE BAIXA E MÉDIA RENDA
Pôster dialogado
COSTA, JC1, WANG, D2, WANG, M1, LIU, E3, PARTAP, U1, CLIFFER, I1, FAWZI, WW1
1 HSPH
2 GMU
3 HMS
Objetivos: Descrever a distribuição do ganho de peso gestacional (GPG) em países de baixa e média renda.
Métodos: Inquéritos nacionais foram usados para calcular o GPG médio por regressão do peso das gestantes (15-49 anos) e a idade gestacional ajustado para fatores sociodemográficos. Para comparações nacionais, um modelo multinível hierárquico de efeitos mistos foi usado com o GPG de cada inquérito como como variável dependente e splines para o ano do inquérito, região geográfica e covariáveis dos países para predizer o GPG médio no ano de 2020 nos níveis nacional, regional e de renda. As estimativas foram comparadas com as recomendações do Instituto de Medicina americano.
Resultados: Foram incluídos 234 inquéritos (1991-2022) de 70 países. O GPG para 2020 variou de 2,6 a 13,5kg. Dez países apresentaram estimativas pontuais acima da recomendação para mulheres com baixo peso; sendo majoritariamente da Europa Central, Oriental/Ásia Central e de renda média-alta. O GPG para regiões foi estimado em: África Subsaariana: 5,4kg (intervalo de incerteza de 95% 3,1-7,7); Norte da África/Oriente Médio: 6,2kg (3,4-9,0); Sul da Ásia: 8,6kg (6,0-11,3); Sudeste Asiático/Leste Asiático/Oceania: 9,3kg (6,2-12,3); América Latina e Caribe: 10kg (7,1-12,9); e Europa Central e Oriental/Ásia Central: 13,0kg (9,0-16,9). Foi observado um gradiente entre os grupos de renda: 5,3kg (2,7-7,9) para países de baixa renda, 7,6kg (5,2-10,1) para renda média-baixa e 9,8kg (7,1-12,5) para renda média-alta; nenhum grupo atingiu o GPG mínimo recomendado.
Conclusões: O GPG foi estimado como sub-ótimo para a maioria dos países e desigualdades substanciais foram observadas.
CONSUMO DE ALIMENTOS REGIONAIS E ULTRAPROCESSADOS E PERFIL LIPÍDICO DE CRIANÇAS AMAZÔNICAS
Pôster dialogado
Hovadick, A.C.A1, Giacomini, I.1, Rodrigues, C.Z1, Cardoso, M.A1
1 Faculdade de Saúde Pública, USP
Objetivo: Investigar a associação entre o consumo de alimentos regionais e ultraprocessados (AUPs) com o perfil lipídico de crianças amazônicas brasileiras.
Métodos: No total, 245 crianças (7-8 anos), participantes da coorte de nascimentos MINA-Brasil, em Cruzeiro do Sul, Acre, foram consideradas nesta análise. O consumo alimentar foi registrado por meio de um questionário de frequência alimentar referente ao último mês. Os alimentos regionais incluíram açaí, buriti, tapioca e farinha de mandioca, enquanto o grupo de AUPs incluiu bolachas industrializadas, embutidos, iogurtes, bebidas açucaradas, cereais matinais, macarrão instantâneo, salgadinho de pacote, sorvete e massa para mingau. Concentrações séricas de colesterol total, LDL, HDL e triacilgliceróis (variáveis dependentes) foram mensuradas por método automatizado em amostra de sangue venoso em jejum de 8-10 horas. Após seleção hierarquizada de covariáveis, modelos de regressão linear múltiplos foram ajustados por índice de riqueza, escolaridade materna e peso ao nascer (Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa: 5.805.325, 09/12/2022; CAAE: 65058322.30000.5421).
Resultados: Um terço das crianças apresentou valores elevados de LDL (≥110 mg/dL) e 44% apresentaram colesterol total elevado (≥170 mg/dL). Quase metade das crianças (46%) consumia menos de um alimento regional por dia, enquanto um terço consumia cinco ou mais AUPs diariamente. Em análise preliminar, não houve associação entre o consumo de AUP e perfil lipídico. No entanto, houve associação estatisticamente significante entre maior consumo de alimentos regionais e valores menores de colesterol total e LDL (respectivamente, β=-5,34, P<0,05; β=-5,45, P<0,05).
Conclusão: Consumo habitual de alimentos regionais pode contribuir para melhor perfil lipídico em crianças amazônicas.