Programa - Poster dialogado - PD27.15 - Determinantes sociais em saúde em estudos de saúde mental, desigualdades de raça, gênero, trabalho e renda
27 DE NOVEMBRO | QUARTA-FEIRA
14:00 - 15:00
MORTES POR DESESPERO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE REGRESSÃO POR JOINPOINT ENTRE 2000 E 2020
Pôster dialogado
Guimarães, R. M.1, Meira, K. C.2, Vicente, C. T. S.1, Caribé, S. S. A.3, Neves, L.1, Vardiero, N.1
1 Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz
2 Escola de Enfermagem - Universidade Federal de São Paulo
3 Ministério da Saúde
Objetivos: Analisar a tendência temporal nas taxas de mortalidade de mortes por desespero no Brasil de 2000 a 2020 de acordo com raça, gênero e faixa etária. Métodos: Trata-se de um estudo de séries temporais das mortes por desespero estratificadas por categorias de sexo, raça e faixas etárias combinadas. Utilizamos estimativas populacionais do IBGE e calculamos as taxas de mortalidade para cada grupo para todos os anos entre 2000 e 2020. Utilizamos análise de regressão segmentada (Joinpoint) para identificar tendências nas taxas. Resultados: Entre 2000 e 2020, as mortes por desespero aumentaram em todos os grupos. Houve um aumento geral de 86,9%. Em relação à velocidade do aumento, os ganhos são mais acelerados nos grupos de meia-idade (principalmente entre 50 e 59 anos), sobretudo entre os homens negros (AAPC 0,54%, CI 95% 0,41% – 0,68%). O risco persiste nessas categorias durante toda a série temporal (Intervalo para RR: homens versus mulheres = 5,6 – 6,2; 50-59 anos versus 20 – 29 anos = 1,9 – 2,2; pessoas negras versus brancas = 1,1 – 1,6). Houve um longo período de declínio interrompido nos dois últimos anos e o aumento recente é digno de destaque. Conclusões: A análise indica que alguns grupos, como pessoas negras e pardas, homens e grupos etários de meia-idade, são mais vulneráveis às condições de vida adversas. O resultado, diferente do estudo pioneiro nos EUA, sugere que o contexto é diferencial na explicação do volume e da tendência de mortes, principalmente para a raça.
FATORES ASSOCIADOS A HOSPITALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICA INFANTO-JUVENIL NO BRASIL
Pôster dialogado
Toledo, L.1, Paiva, J.1, Alves, F.2, Guedes, F.1, Barreto, M.L.1, Machado, D.B.2
1 Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde, Instituto Gonçalo Moniz, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Salvador, Bahia, Brasil
2 Departamento de Saúde Global e Medicina Social, Harvard Medical School, Boston, Massachusetts, Estados Unidos da América
Objetivo: Avaliar os fatores de risco associados às hospitalizações psiquiátricas infanto-juvenis no Brasil entre 2008-2018.
Métodos: Utilizamos dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Violência, vinculados ao baseline da coorte de 100 milhões de Brasileiros. Foram incluídos 24.407.214 jovens (5–24 anos); 20.614 hospitalizados e 24.386.600 não hospitalizados. Taxas de Incidência de hospitalização foram calculadas utilizando o número de hospitalização por pessoa-ano em risco por 100 mil habitantes entre hospitalizados e não hospitalizados. Utilizamos regressão logística multinível para analisar os fatores de risco associados a hospitalização psiquiátrica infanto-juvenil.
Resultados: A taxa de incidência de hospitalização psiquiátrica infanto-juvenil foi de 16,99 por 100.000 pessoas-ano. Jovens vítimas de violência (aOR: 5,9; IC 95%: 5,18-6,71), residentes da região Sul do Brasil (aOR: 2,83; IC 95%: 2,52-3,18) e descendentes de asiáticos (aOR: 1,87; IC 95%: 1,13-3,09) tiveram maior chance de hospitalização psiquiátrica. Jovens do sexo feminino (aOR 0,57; IC 95%: 0,54-0,60) e residentes de zonas rurais (aOR: 0,68; IC 95%: 0,62-0,75) tiveram menor chance de hospitalização psiquiátrica. Jovens residentes em municípios com maior oferta de serviços de saúde mental apresentaram maior chance de hospitalização psiquiátrica.
Conclusões: É imperativo adotar medidas que protejam os jovens de sofrerem violência, visando não só a sua prevenção, mas também a mitigação dos transtornos mentais na juventude.
DETERMINAÇÃO SOCIAL DA ANSIEDADE: ABORDAGEM INTERSECCIONAL DE GÊNERO, RAÇA E RENDA
Pôster dialogado
Araújo, N.C.1, Helioterio, M.C.2, Lua, I.1, Moraes, A.C.1, Carneiro, C.M.M.1, Palma, T.F.1, Araújo, T.M.1
1 UEFS
2 UFRB, UFRJ
Objetivo: Avaliar a intersecção de gênero, raça e renda na ocorrência de ansiedade no contexto pandêmico. Métodos: Estudo transversal com amostra probabilística (por conglomerado) da população urbana com 15 anos ou mais de idade de município baiano, realizado em 2022/23. Aplicou-se questionário estruturado face-a-face por equipe treinada. Marcadores de diferenças sociais (gênero, raça/cor e renda) foram consideradas exposições. O desfecho foi ansiedade, mensurada pelo Generalized Anxiety Disorder (GAD-7). Estimados efeitos isolados e combinados, utilizando análises de interação pela construção de variáveis dummy’s, e cálculo do índice de sinergia (S) com uso das medidas ajustadas (RPa). Resultados: Avaliados 3.872 indivíduos, predominando sexo feminino (70,6%), baixa renda (51,7%), ensino médio e superior (60,2%), e raça/cor negra (84,6%). A prevalência global de ansiedade foi 25,8%. O efeito isolado de menor renda (RPa:2,58; IC95%:1,22- 5,44) e sexo feminino (RPa 2,38; IC95%: 1,31- 4,34) na ansiedade foi elevado. A combinação de marcadores sociais de diferenças ampliou estes efeitos, observando-se interação (S=0,61) e gradiente dose-resposta, com as mulheres negras com menor renda apresentando 3 vezes mais (RPa 3,00; IC95%:1,70-5,25) ansiedade quando comparadas aos homens não negro com maior renda (grupo referente). O efeito combinado foi superior em mulheres negras com maior renda (RPa: 2,06; IC95%: 1,16-3,64) do que em homens negros com menor renda (RPa 1,84; IC95%: 1,01-3,33). Conclusão: A sobreposição de marcadores de diferenças sociais interage ampliando os efeitos sobre a ansiedade de forma sinérgica, reforçando a teoria da interseccionalidade, com a presença de piores desfechos de saúde nos grupos que têm as desvantagens sobrepostas/acumuladas.
POSIÇÃO SOCIOECONÔMICA DO INÍCIO DA VIDA, RAÇA E TRABALHO INFANTIL NO ELSA-BRASIL
Pôster dialogado
Pinto, R.1, Telles, R. W.1, Machado, A. V.1, Giatti, L.1, Barreto, S.1, Camelo, L. V.1
1 UFMG
Objetivo: investigar se raça/cor modifica a associação da posição socioeconômica da infância e adolescência (PSEIA) com a prevalência de trabalho infantil (TI). Métodos: estudo transversal com 11.762 participantes do ELSA-Brasil. Escolaridade materna e classe social do chefe do domicílio, durante a infância e adolescência dos participantes, foram usadas como indicadoras de PSEIA. Definiu-se TI como relato de qualquer tipo de trabalho/emprego até 14 anos de idade. Empregaram-se modelos de regressão logística ajustados por idade, sexo e cidade de moradia, estratificados por raça/cor. Resultados: a prevalência de TI foi de 24,4%, sendo maior entre pretos (33,9%) e pardos (30,3%) que brancos (18,3%). Os níveis de PSEIA também variaram entre os grupos raciais, de modo que 33,3% das mães dos participantes brancos, por exemplo, possuíam ensino médio ou mais, enquanto 7,8% nunca haviam frequentado a escola. Entre pardos, esses percentuais foram de 16,8% e 17,5%, respectivamente. Entre pretos, 10,5% e 22,4%. Nos modelos multivariados, filhos de mães que nunca haviam frequentado a escola tiveram maiores chances de TI em todos os grupos raciais [brancos: OR=11,87(IC95%=9,17-15,37); pardos: OR=4,46(IC95%=3,32-6,00); pretos: OR=3,64(IC95%=2,34-5,66)]. O mesmo padrão foi observado para filhos de chefes de domicílio com baixa classe social comparados à alta [brancos: OR=4,42(IC95%=3,66-5,35); pardos: OR=2,64(IC95%=2,02-3,46); pretos: OR=3,68(IC95%=2,05-6,63)]. Conclusões: a associação entre baixa PSEIA e TI foi consistentemente mais forte entre brancos que entre pardos e pretos. Acredita-se que isso se deva ao racismo estrutural, que resulta em menor variabilidade nos níveis de PSEIA entre pretos e pardos, homogeneamente mais baixos se comparados aos níveis dos brancos.
DESIGUALDADE DE GÊNERO EM DIFERENTES TIPOS DE ATIVIDADE FÍSICA DE LAZER AOS 15 E 22 ANOS
Pôster dialogado
Farias, M.R.1, Gonçalves, H.1, Silva, B.G.C.1
1 UFPel
Objetivo: Descrever a desigualdade de gênero em diferentes tipos de atividade física (AF) de lazer na adolescência e início da vida adulta em jovens do sul do Brasil.
Métodos: Estudo longitudinal, utilizando dados dos acompanhamentos dos 15 (n=4325) e 22 anos (n=3800) da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas/RS. Os tipos de AF de lazer avaliados nas duas idades, de forma dicotômica (prática: sim/não), foram: futebol, caminhada, práticas coletivas, práticas individuais e atividades de academia. Para cada tipo de AF foram calculadas as prevalências e intervalos de confiança de 95% (IC95%), conforme sexo (como marcador de gênero), e analisadas medidas de desigualdade absoluta e relativa.
Resultados: Aos 15 e 22 anos os homens apresentaram maior prevalência de prática de AF de lazer (15 anos: 87,2% vs. 64,6%; 22 anos: 64,6% vs. 36,7%). Futebol foi a AF mais prevalente entre os homens aos 15 (66,9%) e 22 anos (38,8%), sendo a prática quatro e onze vezes maior [4,4 (IC95%:3,9-4,8); 11,0 (IC95%:8,7-14,0)], respectivamente, do que entre as mulheres. A caminhada foi o único tipo de AF mais praticado por mulheres nas duas idades (15 anos: 36,1%; 22 anos: 21,7%), mas apresentou menor desigualdade relativa [0,7 (IC95%:0,6-0,8); 0,9 (IC95%:0,8;1,0)]. As desigualdades relativas de gênero aumentaram dos 15 aos 22 anos para todos os tipos de AF, exceto caminhada e atividades de academia.
Conclusões: Evidenciou-se uma significativa desigualdade de gênero na prática de diferentes tipos de AF de lazer em jovens, que aumentou dos 15 aos 22 anos para a maioria das atividades.
INFLUÊNCIA DO DESEMPREGO NAS VENDAS DE ANTIDEPRESSIVOS EM DROGARIAS NO BRASIL
Pôster dialogado
Lima, V.P.1, Galvao, T.F.1, Silva, M.T.2
1 Unicamp
2 UnB
Objetivo
Avaliar a relação entre desemprego e registros de vendas de antidepressivos no Brasil.
Métodos
Trata-se de uma análise de série temporal baseada em dados mensais de desemprego do IBGE e vendas de antidepressivos em drogarias registradas no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), de 2014 a 2021. Utilizamos como variável de ajuste o índice de incerteza econômica da Fundação Getulio Vargas. Calculamos a dose diária definida/1.000 habitantes/dia (DID) e classificamos quanto a disponibilidade na Relação de Medicamentos Essenciais do Sistema Sistema Único de Saúde (SUS). Utilizamos o teste do multiplicador Lagrangiano de Breusch-Godfrey para verificar a independência de resíduos, regressões de Prais-Winsten e Cochrane-Orcutt para os resíduos corrigidos e regressão de mínimos quadrados ponderados.
Resultados
Em janeiro de 2014 o consumo de antidepressivos era de 26,2 DID, a taxa de desemprego, 7,2% e a incerteza político-econômica, 136,7%, e no final da história, em outubro de 2021, as vendas de antidepressivos eram 37,8 DID/mês, o desemprego, 11,1%, e índice de incerteza econômica, 260,7%. Observou-se que o aumento de 1% na taxa de desemprego no mês anterior levou a um aumento de 1,12% (IC95%: 0,63-1,77%) nas vendas, sendo maior em antidepressivos não disponíveis no SUS (0,54%; IC95% : 0,23-0,86%) do que os disponíveis no sistema (0,47%; IC95%: 0,22-0,73%). O aumento do índice de incerteza econômica não influenciou a venda de antidepressivos.
Conclusão
No Brasil, de 2014 a 2021, a venda de antidepressivos foi potencialmente aumentada pelo aumento do desemprego.