Programa - Comunicação Coordenada - CC1.3 - Análise da Saúde dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Brasil: Doença, Suicídio, Acidente e Dados Críticos
25 DE NOVEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
09:40 - 11:00
ESTADOS BRASILEIROS COM MAIOR PROGRESSÃO DE DOENÇAS E AGRAVOS ASSOCIADOS AO TRABALHO
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Cavalcante, C. C.1, Pontes, G. B. M.1, Araujo, A. S.1
1 UFPB
Objetivo: Rastrear os estados brasileiros com maior progressão de doenças e agravos relacionados ao trabalho (DART) notificados no período de 2010 a 2022. Método: estudo quantitativo, longitudinal e retrospectivo, realizado por meio da coleta de informações das bases de dados do SmartLab-SINAN/Ministério da Saúde e IBGE, cujo critério de inclusão dos dados se deu por todas as notificações oficiais de DART, no período de 2010-2022, dos 26 estados brasileiros e do DF. Ademais, realizaram-se cálculos estatísticos para avaliação do número de notificações de DART para cada 10.000 pessoas em idade ativa, de 15 a 64 anos, no período avaliado. Subsequentemente, procedeu-se com cálculos de regressão linear aplicado às curvas de progressão das notificações de DART, para cada 10.000 pessoas em idade ativa, avaliando-se o coeficiente angular (CA) dessas retas de progressão, para análise dos respectivos graus de inclinação. Resultados: Constatou-se um total de 2.701.168 notificações de DART em todo o país no período avaliado. A partir da obtenção das respectivas retas de progressão de notificações de DART, para cada 10.000 pessoas em idade ativa, verificaram-se os 5 estados cujos CA dessas retas foram mais acentuados: RS (5,59); RO (3,14); MS (3,02); PR (2,84) e AC (2,19). Conclusões: Foi identificada uma progressão significativa do número de DART nos estados brasileiros, de 2010-2022, destacando-se a liderança do RS. Esses dados revelam a necessidade de novos estudos quantitativos/qualitativos direcionados, além de contínua coleta de dados para monitoração de tendências e avaliação de intervenções, de maneira a apoiar os estados brasileiros mais afetados.
QUANDO A SAÍDA É A PRÓPRIA MORTE: SUICÍDIO ENTRE TRABALHADORES E TRABALHADORAS NO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Palma, T. F.1, Teixeira, J. R. B.1, Bandini, M. C. D.2, De Lucca, S. R.2, Lua, I.1, Pinho, P. S.3, Morais, A. C.1, Araújo, N. C.1, Araújo, T. M.1
1 UEFS
2 UNICAMP
3 UFRB
Objetivo: Avaliar o suicídio no Brasil a partir da tendência temporal (2010-19) e perfil sócio-ocupacional das ocorrências, explorando aspectos que conectam o suicídio ao trabalho. Método: Estudo ecológico analítico de série temporal, que avaliou os suicídios (CID X60-84) no Brasil, na população em idade ativa (de 14-65 anos) e com registro de ocupação. Base de dados proveniente do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), IBGE, RAIS e inquéritos de ocupação. Estimou-se a distribuição percentual, Variação Percentual Proporcional-VPP e taxas de mortalidade-TM no período de 2010-19. Resultados: Observa-se tendência crescente sustentada de suicídio (VPPglobal=60,1%); mais evidente em homens (VPP=62,8%) do que em mulheres (VPP=51,4%). A TM foi de 8,1 suicídios/100.000 pessoas em idade ativa, com risco superior entre os homens (TM:10,6/100.000), pessoas autodeclaradas indígenas (19,5/100.000), separadas (TM:7,5/100.000), com baixa escolaridade (4 a 7 anos de estudo): 19,9/100 mil. A média diária de suicídios, em 2019, foi de 27,3/dia. Destaca-se a TM em trabalhadores/as da Agricultura (21,7/100.000 e 5 suicídios/dia), majoritariamente homens (89,5%) e negros (63,0%). O enforcamento foi o método mais utilizado (71,4%), de modo geral. A autointoxicação ganha destaque em mulheres (19,1%); e, o uso de pesticidas em trabalhadores da agricultura (3ª causa: 4,5%), por ser causa e, também, meio suicidário. Conclusão: Observa-se crescimento preocupante do suicídio entre trabalhadores e trabalhadoras, com vulnerabilidade acentuada na população autodeclarada indígena e trabalhadores da agricultura. Ressalta-se ainda ampliação de ocupações notificadas, apontando sua disseminação e a relevância da atenção às características do trabalho na vigilância e controle do suicídio.
ÓBITOS E APVP POR DOENÇAS DO FÍGADO EM TRABALHADORES AGROPECUÁRIOS, BRASIL, 2017 A 2022
Comunicação coordenada (apresentação oral)
SILVA, J.S.1, NUNES, T.S1, DIAS, W.P.1, ARRUDA, S.2, AWONIYI, M.A.1, CREMONESE, C.1
1 UFBA
2 HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE
Objetivos: Caracterizar o perfil dos registros de óbitos por doenças do fígado (DF) e estimar os Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP) entre trabalhadores agropecuários brasileiros, 2017 a 2022. Métodos: Estudo epidemiológico descritivo, com uso de microdados disponíveis no Sistema de Informação de Mortalidade do DATASUS, 2017 a 2022. Para o desfecho, foram considerados os registros do campo 40 da Declaração de Óbito, , preenchidos com os códigos K70-K77/DF, conforme CID-10. Óbitos caracterizados segundo sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, macrorregião brasileira, tipologia do município, dentre outros. Indicadores de saúde calculados foram Mortalidade Proporcional, APVP, %APVP, Taxa APVP e Razão de Taxa APVP. Análises conduzidas pelo software R. Projeto não submetido ao CEP por serem dados públicos. Resultados: Entre 2017 e 2022 foram registrados 15.362 óbitos por DF entre trabalhadores agropecuários. Maior mortalidade proporcional em homens (86,2%), raça/cor parda (61,1%), faixas etárias até 49 anos (40,9%), com até 7 anos de estudos (52,4%) e residentes da macrorregião Nordeste (56,9%). A idade média do óbito foi 51,3 anos, cerca de 3 anos mais jovens do que os demais trabalhadores. No período, foram calculados 382.869 APVP entre trabalhadores agropecuários. Maiores taxas APVP encontradas no Nordeste com 4.527 anos para cada 100 mil trabalhadores agropecuários, com uma razão de taxa APVP 1,45 vezes superior a nacional. Conclusões: Baixa idade média do óbito (51,3) por DF evidencia precocidade das mortes, concentradas entre trabalhadores pardos e do Nordeste. Maiores taxas e razões de taxa APVP no Nordeste indicam potenciais desigualdades sociais e de acesso a saúde.
QUALIDADE DOS DADOS DE REGISTROS DE ACIDENTE DE TRABALHO GRAVE NO SINAN, BRASIL, 2007-2021
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Feitoza, Y. S.1, Sacchelli, A. N.1, Menegon, L. S.1
1 UFSC
Apesar do acidente de trabalho grave (ATG) ser um agravo de notificação compulsória, estudos demonstram alta taxa de subnotificação e baixa qualidade dos registros. OBJETIVO: analisar a qualidade dos registros de ATG no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no Brasil entre 2007 e 2021. MÉTODOS: estudo transversal, por meio da estimativa das taxas de incompletude (percentual de registros ignorados ou sem preenchimento) e inconsistência (mau preenchimento) das variáveis: sexo, raça, nível de instrução, faixa etária, situação no mercado de trabalho, terceirizado, tipo de acidente, local, evolução, emissão da CAT, jornada de trabalho e ocupação. Os dados foram analisados com uso do programa estatístico Stata 13.1. RESULTADOS: foram identificados 1.286.253 registros de ATG, nos quais observou-se incompletude de 0,02% (n=239.000) na variável sexo, 14,36% (n=179.480) para raça, 27,48% (n=327.157) para escolaridade, 3,13% (n=40.217) para faixa- etária, 7,03% (n=85.028) para situação no mercado de trabalho, 14,88% (n=147.541) para empresa terceirizada, 4,35% (n=52.182) para tipo de acidente, 9,68% (119.672) para o local, 16,42% (n=200.692) para evolução do caso, 44,61% (n=551.492) para emissão da Comunicação de acidente de Trabalho (CAT). A variável ocupação apresentou 7,42% (n=96.665) de dados ignorados, enquanto 65,95% (n=841.550) dos registros foram mau preenchidos. CONCLUSÕES: as variáveis nível de instrução e emissão da CAT apresentaram baixa qualidade do registro, no que se refere à incompletude; enquanto a variável ocupação apresentou baixa qualidade por conta do mau preenchimento. Esse cenário compromete a análise da situação de saúde dos trabalhadores brasileiros.
SAÚDE DOS TRABALHADORES INDÍGENAS NAS CAPITAIS E REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Pataxó, V.C.1, Almeida, M. M. C.1
1 UFBA
Objetivo: Investigar o perfil sócio ocupacional e de saúde dos trabalhadores indígenas nas capitais e regiões metropolitanas (RME) no Brasil. Métodos: Estudo epidemiológico descritivo, com dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), IBGE, 2019. A população de estudo foram os trabalhadores indígenas maiores de 18 anos das capitais e RME do país. Os trabalhadores foram os indivíduos que, na semana de referência da pesquisa, relataram trabalhar/estagiar, durante pelo menos uma hora, em atividade remunerada por dinheiro. As variáveis sociodemográficas, ocupacionais e de saúde foram descritas percentualmente. Resultados: Indígenas representaram 0,5% da população trabalhadora das capitais e RME do país. Os trabalhadores indígenas são maioria homens (62,3%), de 31 a 50 anos (52,1%), escolaridade até ensino médio (45,0%), residentes de áreas urbanas (88,3%), em São Paulo (19,5%) e na Bahia (11,1%). Esses trabalham nos serviços e comércios (22,0%), no setor privado (46,5%), com carteira de trabalho assinada (70,8%). Acidentes de trabalho aconteceram em 0,9% desses, com afastamento das atividades habituais em 34,5% dos casos e 4,2% evoluindo para sequelas permanentes. Cerca de 6,9% dos trabalhadores referem afastamento de atividades habituais por motivo de saúde, 25,7% relata que o motivo de saúde estava relacionado ao trabalho, sendo as doenças osteoarticulares os principais diagnósticos (36,7%). Conclusão: Embora a PNS alcance uma população de trabalhadores indígenas mais urbana, a análise desses dados torna-se relevante pelo reconhecimento da relação trabalho e saúde nessa população. Mais estudos precisam ser realizados, garantindo a visibilidade da produção econômica dos povos tradicionais em diferentes contextos.