Programa - Comunicação Coordenada - CC1.5 - Vozes Silenciadas: Explorando a Violência de Gênero e o Cyberbullying
25 DE NOVEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
09:40 - 11:00
CYBERBULLYING E VIOLÊNCIA DE GÊNERO: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS NO EQUADOR
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Fonseca, M. B.1, Areopaja, G.1, Oenning, N. S . X.1, Rivadeneira, M. F.1
1 Pontificia Universidad Católica del Ecuador
Introdução: O cyberbullying é definido como dano intencional infligido através do uso de computadores, telefones celulares ou outros dispositivos eletrônicos.
Objetivo: Descrever a prevalência de violência cibernética contra a mulher e verificar fatores socioeconômicos associados.
Metodologia: Estudo transversal, com uso de dados da Pesquisa Nacional sobre Relações Familiares e Violência de Gênero contra Mulheres (ENVIGMU,2019). Considerou-se o desfecho violência cibernética como ações e comportamentos graves de monitoramento em redes sociais, envio de e-mails ou mensagens abusivas e ameaçadoras e divulgação de informações privadas. O inquérito possui amostra probabilística de 17207 mulheres, e a população estudada foram mulheres casadas ou em união estável (n=8482. As variáveis socioeconômicas analisadas foram: idade, zona urbana/rural, escolaridade, renda, acesso à água potável, a serviços sanitários, de coleta de lixo e de eletricidade. Após o cálculo da prevalência para o desfecho, foram processados modelos de regressão logística multivariável.
Resultados: 10% das mulheres já sofreram algum tipo de violência cibernética. A prevalência foi verificada em ambientes relacionais diversos (educacional, laboral, social, familiar, conjugal), sendo a relação conjugal a maior fonte de violência (6,9%) . Mulheres residentes em área urbana (OR=1,6; IC 95%: 1,15-1,59), em união estável (OR=1,2; IC 95%: 1,06-1,46), menores de 30 anos(OR=5,4; IC 95%: 3,37-8,74) e em vulnerabilidade socioeconômica (sem acesso a serviços sanitários(OR=2,3; IC 95%: 1,61-3,18) estão mais expostas a sofrer algum tipo de violência cibernética. Não houve diferença significativa entre os estratos de raça/cor.
Conclusões: Os meios tecnológicos reproduzem a violência de género predominante na sociedade. As mulheres mais expostas a este tipo de violência são aquelas com maior vulnerabilidade socioeconómica.
PREDIÇÃO DE FEMINICÍDIOS ENTRE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO NO ESTADO DE SÃO PAULO
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Soares, M.Q.1, Moura, K.A.2, Bevilacqua, P.D.3, Chiavegatto Filho, A.D.P.2
1 Fiocruz Minas; USP
2 USP
3 Fiocruz Minas
Objetivos: Avaliar o desempenho de algoritmos de machine learning, incluindo regressão logística, árvore de decisão e XGBoost para predição de feminicídios entre mulheres com notificações de violência por parceiro íntimo (VPI) no Estado de São Paulo entre 2011 e 2017. Métodos: Foram utilizados dados do linkage do Sistema de Informação de Agravos de Notificação e do Sistema de Informação sobre Mortalidade, fornecidos pelo Ministério da Saúde. O pré-processamento dos dados incluiu a remoção de valores ausentes, criação de variáveis dummies e balanceamento das classes. Três modelos de machine learning foram treinados: regressão logística, árvore de decisão e XGBoost. O desempenho dos modelos foi avaliado por meio das métricas: precisão, recall, F1-score e área sob a curva ROC (AUC ROC). Resultados: A amostra final consistiu em 30.830 mulheres, das quais 65 tiveram óbito registrado no período. A regressão logística apresentou precisão de 0.75, recall de 0.60, F1-score de 0.67 e AUC ROC de 0.82. A árvore de decisão apresentou precisão de 0.86, recall de 0.60, F1-score de 0.71 e AUC ROC de 0.75. O modelo XGBoost teve o melhor desempenho, com precisão de 0.84, recall de 0.79, F1-score de 0.81 e AUC ROC de 0.87. Conclusões: O modelo XGBoost mostrou-se superior na predição de feminicídios entre mulheres com notificações de VPI, destacando-se como uma ferramenta eficaz para o planejamento de intervenções preventivas em saúde pública e segurança. O uso de técnicas de machine learning pode ajudar a identificar casos de maior risco e a direcionar recursos de forma mais eficaz para prevenir feminicídios entre mulheres que sofrem VPI.
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA HOMENS NO BRASIL A PARTIR DA PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE DE 2019
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Ferreira, D. G.1
1 UNIVAG
Objetivos
Estimar a prevalência de violência sexual entre os homens brasileiros e fatores associados.
Métodos
Estudo transversal, com homens participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019. A amostragem foi conglomerada em três estágios, representativa para o Brasil e suas divisões. Para este estudo considerou-se a variável violência sexual alguma vez na vida como desfecho. Foram realizados modelos de regressão logística ajustados para identificar fatores associados à violência sexual. A pesquisa foi aprovada pela CONEP e seguiu as normas éticas.
Resultados
A maioria dos participantes são pardos (46,1%), com idade entre 18-39 anos (43,0%), e com ensino fundamental (41,6%). A prevalência de violência sexual é de 5,56%. Transtornos mentais como depressão e ansiedade estão significativamente associados à vitimização sexual. As prevalências de diagnósticos de transtornos depressivos (40,95%) e de ansiedade (26,1%) entre as vítimas de violência sexual é preocupante. Homossexuais, embora minoritários na amostra, também apresentam riscos elevados de vitimização sexual, com Odds Ratios estatisticamente significativos e ajustados de 4,67 (IC 95%: 1.41-15.45). Homens amarelos, também minoria na amostra, apresentaram maior risco de vitimização sexual com um OR 8,13 (IC 95%: 2,69-24,54).
Conclusões
A prevalência de violência sexual entre homens brasileiros é significativamente associada a fatores como orientação sexual, raça e transtornos mentais, exigindo políticas específicas de prevenção e suporte.
TRAJETÓRIA DAS MULHERES VÍTIMAS DE FEMINICÍDIO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE EM BELO HORIZONTE
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Pinto, I.V1, Rocha, H.A da1, Lansky, S2, Santos, M.R dos2, Fruchtman, C.S3, Santos, A.P1, Lacerda, K.R1, Muñoz, D.C3, Bevilacqua, P.D1
1 Instituto René Rachou - Fiocruz Minas
2 Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte
3 Swiss Tropical and Public Health Institute
Objetivo: Analisar o percurso de vítimas de feminicídio no Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte (BH), identificando oportunidades de detecção por meio dos registros em sistemas de informação.
Métodos: Estudo de coorte retrospectiva com registros do Ministério Público de Minas Gerais sobre feminicídios de mulheres (10 a 49 anos) ocorridos em BH entre 2016 e 2020. Foi realizado pareamento probabilístico com registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA).
Resultados: Foram identificadas 52 mulheres, com idade média de 31,8 anos, majoritariamente negras (N=29;55,8%) e residentes em BH (N=45;86,5%). A principal causa básica de óbito foi “agressão” (N=46;88,5%). Em 44,2% dos casos, houve registro anterior nos sistemas avaliados (N=23). Dessas, 19 mulheres (36,5%) tiveram pelo menos uma internação hospitalar, totalizando 47 internações, com diagnóstico relacionado à gravidez, parto ou puerpério (N=26;55,3%). Quando o parto foi a última causa de internação (N=9), o tempo médio até o óbito variou de três a 50 meses (média de 21,8 meses). Nos casos de agressão intencional (N=3), o óbito ocorreu durante a internação. Oito mulheres (15,4%) tinham registro no SINAN, sendo cinco na ocasião do óbito, enquanto nas demais a notificação ocorreu oito, quatorze e 90 dias antes do óbito.
Conclusões: O feminicídio é resultado de um histórico de violências, evidenciando perda de oportunidade na sua detecção, seja pela subnotificação no SINAN (84,6%) ou pelo registro incorreto da causa básica do óbito no SIM (11,5%).