Programa - Comunicação Coordenada - CC1.12 - Saúde de Populações Negras e Quilombolas 1
25 DE NOVEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
09:40 - 11:00
TENDÊNCIA DA INCOMPLETUDE DA VARIÁVEL RAÇA/COR DOS ÓBITOS POR COVID-19 NO BRASIL,2020-2022
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Santos, H. L. P. C.1, Trindade, E. S.2, Oliveira, E. R. A.1, Cordeiro, M. V. S.3, Oliveira, R. S.1, Lima, E. C.1, Santos, A. M.1, Prado, N. M. B. L.1
1 UFBA
2 UESB
3 UFES
Objetivo: Analisar a incompletude e a tendência da incompletude da variável raça/cor nas internações por Covid-19 cujo desfecho foi óbito, no Brasil, entre abril de 2020 e abril de 2022. Métodos: Estudo ecológico de série temporal sobre a incompletude da variável raça/cor nas internações por Covid-19 cujo desfecho foi óbito no Brasil, suas macrorregiões e Unidades Federativas, pela regressão por joinpoint, cálculo da Monthly Percent Change (MPC) e Average Monthly Percent Change (AMPC), a partir de dados do SIH/SUS. Resultados: A incompletude da variável raça/cor nas internações por Covid-19 cujo desfecho foi óbito no Brasil foi 25,85%, considerada ruim. Todas as regiões do país tiveram grau de incompletude ruim, exceto Região Sul, considerada regular. No período analisado, a análise jointpoint revelou tendência de estabilidade na incompletude da variável raça/cor no Brasil (AMPC: 0,54 [-0,64; 1,74]; p: 0,37) e nas regiões Sudeste (AMPC: -0,61 [-3,36; 2,22]; p: 0,67) e Norte (AMPC: 3,74 [-0,14; 7,78]; p: 0,06). As regiões Sul (AMPC: 5,49 [2,94; 8,11]; p: 0,00002) e Nordeste (AMPC: 2,50 [0,77; 4,25]; p: 0,005) apresentaram crescimento na tendência da incompletude, enquanto que a região Centro-Oeste (AMPC: -2,91 [-5,26; -0,51]; p: 0,02) teve tendência de redução. Conclusão: A proporção de preenchimento ruim e a tendência de estabilidade da incompletude revela que não houve melhoria na qualidade de preenchimento da variável raça/cor durante o período da pandemia da covid-19 no Brasil, fato que pode ter ampliando as iniquidades em saúde para população negra e dificultado o planejamento de ações estratégias para essa população.
ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ALAGOANAS: DIFERENCIAIS ENTRE SER OU NÃO SER QUILOMBOLA
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Santos, T.R1, Barbosa, L.B1, Santos, E.A1, Ferreira, H.S.1
1 UFAL
Objetivos: Comparar a prevalência e os fatores associados ao déficit estatural e ao excesso de peso entre crianças (<5 anos) quilombolas e não quilombolas do estado de Alagoas.
Métodos: Analisaram-se dados de dois inquéritos domiciliares, conduzidos em 2015 e 2018, com amostras probabilísticas de crianças não quilombolas (n=991) e quilombolas (n=555), respectivamente. Déficit estatural (índice altura-para-idade <-2 dp) e excesso de peso (peso-para-altura >+2) foram as variáveis dependentes. Os fatores associados (demográficos, socioeconômicos, ambientais, maternos, relacionados à criança) foram identificados por regressão de Poisson com variância robusta (p<0,05), conforme modelo teórico hierarquizado para cada desfecho.
Resultados: Crianças quilombolas apresentaram maior prevalência de déficit estatural (6,5% vs. 3,5%; p=0,008). Já excesso de peso foi superior entre as não quilombolas (9,6% vs. 14,1%; p=0,009). Independentemente da condição quilombola, a baixa estatura materna e o baixo peso ao nascer foram fatores associados ao déficit estatural. O índice de riqueza inferior à mediana esteve associado a esse desfecho apenas entre quilombolas, enquanto idade ≤24 meses foi associada entre não quilombolas. Famílias em situação de insegurança alimentar moderada, idade ≤24 meses e elevado peso ao nascer (EPN) foram fatores associados ao excesso de peso entre crianças quilombolas. Entre as não quilombolas, os preditores associados ao excesso foram o maior nível de IMC materno e a EPN.
Conclusões: Os extremos antropométricos analisados prevalecem de forma relevante nos dois cenários, embora em magnitudes distintas. Os diferentes fatores associados a essas condições, conforme o contexto considerado, evidenciam os efeitos dos determinantes sociais sobre o estado nutricional dessas crianças.
ACESSO À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POR COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA BAHIA, 2023
Comunicação coordenada (apresentação oral)
MENESES, A. C. S. S.1, FREITAS NETO, W. A.2, BORGES, D.3, BARROS, R. A. L.3, SOUZA, T. O. M.4, PEREIRA, J. C.3, PRATES, T. L.3, OLIVEIRA, A. L.3, SOUZA, T. S.5, SANTANA, K. S. O.5, JOVELINO, J. V.6, SANTOS, I.7, SANTOS, S. S.6, SILVA, J. S.8, ROCHA, V. P.3, SILVA, F. S.9, VIANA, P. J. S.3, SANTANA, R. A.3, MENEZES JUNIOR, G. C.3, MISE, Y. F.3, MOTA, C. S.3, MIRANDA, S. S.3, LACERDA, R. S.10, NERY, J. S.3
1 Faculdade de Medicina da Bahia - FMB/UFBA
2 Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
3 Instituto de Saúde Coletiva - ISC/UFBA
4 Instituto Multidisciplinar de Reabilitação e Saúde - IMRS/UFBA
5 Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP
6 Conselho Quilombola da Bacia e Vale do Iguape
7 Associação Quilombola do Engenho da Cruz
8 Coletivo de jovens empreendedores do Quilombo Engenho da Ponte
9 Quilombo Rio dos Macacos
10 Universidade Federal de Sergipe - UFS
Objetivo: Descrever o acesso à Atenção Primária à Saúde em comunidades quilombolas de Cachoeira e Simões Filho - Bahia. Métodos: Destaca-se que a unidade de análise foi o domicílio. Trata-se de um estudo realizado nas comunidades quilombolas Dendê, Kalembá, Kaonge, Engenho da Praia, Engenho da Ponte, Engenho da Cruz (Cachoeira) e Rio dos Macacos (Simões Filho) entre pessoas residentes na comunidade há pelo menos 6 meses e com 14 anos ou mais. Resultados: De um total de 208 respondentes que se autodeclararam responsável/representante do domicílio, 180(86,5%) são atendidos por unidade básica de saúde em seu território, sendo que 93(51,7%) não se sentem contemplados pelo horário de funcionamento do serviço. Na percepção de 146(81,1%) dos entrevistados, a unidade possui equipe completa. Em 164(91,1%), a equipe de saúde bucal está presente, enquanto o Agente Comunitário de Saúde visita frequentemente em 81(55,5%). Dificuldades de acesso foram relatadas por 67(37,2%) dos residentes, devido a: dificuldade de transporte 38(39,2%), demora no atendimento 22(22,7%) e dificuldades no agendamento 15(15,5%). A mediana do tempo para atendimento em dias é [IIQ: 5;2-14,3] para Médicos, [IIQ: 1;0-3,8] para Dentistas e [IIQ: 1;0-1] para Enfermeiros. Apenas 13(7,2%) avaliam o cuidado da equipe de saúde como “muito boa”. Conclusão: O acesso à saúde primária das comunidades quilombolas necessita de rearranjos no modelo de oferta de cuidados, visto as peculiaridades dos modos de vida e no perfil epidemiológico dos quilombolas.
O PAPEL DA RAÇA NAS MORTES POR DESESPERO NO BRASIL: É UM “WHITE PEOPLE PROBLEM”?
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Guimarães, R.M.1, Meira, K.C.2, Vicente, C.T.S.3, Andrade, S.S.C.A.4, Neves, L.B.S.5, Vardiero, N.A.5
1 Fundação Oswaldo Cruz
2 UNIFESP
3 SMS-RJ
4 Ministério da Saúde
5 IDOMED | Universidade Estácio de Sá
Objetivo
comparar a magnitude da disparidade nas mortes por desespero segundo sexo, idade e raça no Brasil.
Métodos
Estimamos a contagem de mortes por desespero (óbitos decorrentes de suicídio, overdoses de drogas e doenças relacionadas ao álcool, associadas ao desemprego, isolamento social e perda de esperança em um futuro melhor). Realizamos modelagem de regressão de Poisson para estimar a magnitude da associação entre sexo, faixa etária, raça e mortes por desespero. Além disso, estimamos a relação do tempo como proxy da fase de crise econômica e das mortes por desespero.
Resultados
Encontramos associação entre mortalidade por desespero e sexo masculino (RP=6,15; IC95% 6,09 – 6,22); ênfase nas faixas etárias de 40 a 49 anos (RP=2,45, IC 95% 2,41 – 2,48) e 50 a 59 anos (RP=2,39, IC 95% 2,36 – 2,43); e raça parda (RP=1,21, IC 95% 1,20 – 1,22) e negra (RP=1,36, IC 95% 1,34 – 1,37). Além disso, em comparação à fase contrafactual (2003-2007), encontramos associação com a fase inicial da crise (2008 – 2011) (RR=1,08, IC 95% 1,04 – 1,13); o período inicial de estagnação econômica brasileira (2011 – 2014) (RR=1,10, IC 95% 1,06 – 1,15); e o período de início da recessão econômica (2015 – 2018) (RR=1,24, IC 95% 1,20 – 1,30).
Conclusão
A associação com a raça foi oposta à verificada no estudo original nos EUA, o que sugere que esta variável deve ser analisada à luz do contexto estrutural. Consideramos que o agravamento da crise interfere na força da associação com as mortes por desespero, e de forma diferenciada entre a população negra.
RACISMO, GÊNERO E PREVALÊNCIA DE TRABALHO INFANTIL: RESULTADOS DO ELSA-BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Pinto, R.1, Telles, R. W.1, Machado, A. V.1, Giatti, L.1, Barreto, S.1, Camelo, L. V.1
1 UFMG
Objetivo: investigar se a associação do racismo com o trabalho infantil é modificada por gênero. Métodos: estudo transversal com 11.762 participantes do ELSA-Brasil. Utilizou-se raça/cor como marcador social do racismo. Trabalho infantil foi avaliado de duas formas: (1) relato de qualquer tipo de trabalho/emprego até 14 anos de idade; e (2) relato de trabalho/emprego que atrapalhou estudar até 14 anos de idade. Sexo foi utilizado como marcador social de gênero. Empregaram-se modelos de regressão logística ajustados por idade e cidade de moradia, estratificados por gênero. Resultados: a prevalência do relato de qualquer trabalho infantil foi de 24,4%, maior entre mulheres pretas (28,0%) e pardas (21,6%) do que brancas (12,8%), bem como entre homens pretos (43,8%) e pardos (39,6%) do que brancos (25,1%). O mesmo padrão foi observado quanto ao trabalho infantil que atrapalhou estudar, cuja prevalência foi de 6,8%, maior entre mulheres pretas (10,8%) e pardas (6,3%) do que brancas (2,5%), bem como entre homens pretos (14,2%) e pardos (12,3%) do que brancos (5,7%). Nos modelos multivariados, as chances de qualquer trabalho infantil foram maiores para mulheres pretas [OR=3,09(IC95%=2,59;3,68)] e homens pretos [OR=2,72(IC95%=2,26;3,29)] comparados com mulheres e homens brancos, respectivamente. Ao se considerar o trabalho infantil que atrapalhou estudar, as chances se tornaram ainda maiores para mulheres pretas (OR=5,82; IC95%=4,32;7,83) e homens pretos (OR=3,16; IC95%=2,37;4,20). Conclusões: mulheres e homens pretos apresentaram maiores chances de trabalho infantil. As forças de associação foram maiores entre mulheres que homens, refletindo maior variação na prevalência de trabalho infantil entre mulheres segundo categorias de raça/cor.