Programa - Comunicação Coordenada - CC1.17 - Impactos da Insegurança Alimentar, Desigualdade Social e Políticas Públicas na Mortalidade e Nutrição no Brasil
25 DE NOVEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
17:00 - 18:20
INSEGURANÇA ALIMENTAR E MORTALIDADE INFANTIL POR ACESSO INADEQUADO A SANEAMENTO NO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Moura, L.A.1, Santos, E.V.O.1, Sousa, R.S.1, Marchioni, D.M.L.1
1 FSP/USP
Este estudo analisou a associação entre insegurança alimentar (IA) e mortalidade de crianças menores de 5 anos por causas relacionadas ao acesso inadequado à água e saneamento (MCAS) no Brasil, no período de 2004 a 2022. Foi utilizado um modelo de regressão quantílica longitudinal com parâmetros estimados para os percentis 0.1, 0.25, 0.5, 0.75 e 0.9 da distribuição condicional da MCAS. Os dados de prevalência de IA foram obtidos da PNAD (2004, 2009 e 2013), POF (2017/2018) e VIGISAN (2022) e as taxas de MCAS foram calculadas a partir de dados do IBGE. O efeito da IA na MCAS foi positivo e significativo para os quantis 50 (β = 1,55, p-valor = 0,04), 75 (β = 1,60, p-valor = 0,03) e 90 (β = 1,74, p-valor = 0,01). Verificou-se maior associação para as regiões Norte e Nordeste do país, com aumento dos coeficientes quanto maior o quantil para o Norte (q10: β = 3,26; q25: β = 3,48; q50: β = 3,38; q75: β = 3,96; q90: β = 4,09, p-valor <0,001) e valores semelhantes dos coeficientes em todos os quantis no Nordeste (q10: β = 2,59; q25: β = 2,56; q50: β = 2,46; q75: β = 2,41; q90: β = 2,34, p-valor <0,001). O efeito da IA foi maior, principalmente, nos estados da região Norte quanto maiores as taxas de MCAS, o que incita a necessidade de políticas públicas que, além de garantir o acesso adequado à alimentação, também incluam o fornecimento adequado de água e esgotamento sanitário nesta região.
MORTES POR DESESPERO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE SÉRIE TEMPORAL INTERROMPIDA
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Guimarães, R. M.1, Meira, K. C.2, Vicente, C. T. S.1, Caribé, S. S. A.3, Neves, L1, Vardiero, N1
1 Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz
2 Escola de Enfermagem - Universidade Federal de São Paulo
3 Ministério da Saúde
Objetivos: Avaliar o efeito da crise econômica e medidas de austeridade fiscal nas mortes por desespero no Brasil, descrevendo as tendências de mortes por desespero no Brasil entre 2003 e 2018, de acordo com as fases do ciclo econômico. Métodos: Trata-se de um estudo ecológico conduzido no Brasil utilizando dados de mortalidade e população entre 2003 e 2018, extraídos do SIM/DATASUS e IBGE, respectivamente. Analisamos a série temporal de taxas de mortalidade por covariáveis e encaixamos um modelo de série temporal interrompida para avaliar o efeito da crise na tendência através do método Prais-Winsten. Resultados: A análise temporal mostrou uma diferença significativa na média de valores antes da estagnação econômica (Média 8.68 ± 0.71) e após a estagnação econômica (Média 11.62 ± 0.62). Houve uma associação positiva entre a crise econômica e as mortes por desespero, com uma mudança significativa em nível (p-valor = 0.003) e um efeito de tendência não significativo (p-valor= 0.300). Há diferenças em sexo, idade e, principalmente, raça: homens (nível=0.424), pessoas de meia-idade (40-49 anos=3.281; 50-59 anos=7.408) e pessoas negras (nível=3.679) estão sob maior risco. Conclusões: O presente estudo mostra o efeito da crise econômica e mortalidade na população, com diferenças demográficas.
DESIGUALDADE SOCIAL NA MORTALIDADE PREMATURA NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS-SP, 2000-04/2015-19
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Farias, S.H1, Ferreira, M.C1, Barros, M.B.A1
1 Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp
Objetivo: Analisar se houve mudança na magnitude da desigualdade socioespacial na mortalidade prematura nos triênios de 2000-04 e 2015-19, em Campinas-SP. Método: Estudo ecológico realizado com dados secundários obtidos pelo SIM/Datasus para analisar as mortes prematuras (20 a 64 anos), utilizando o IPVS para classificação dos três estratos de vulnerabilidade social (VS). Calculou-se as taxas de mortalidade padronizada por idade, segundo sexo e estratos, e as desigualdades na mortalidade foram mensuradas pelas Razões entre Taxas (RT). Resultados: Houve aumento da desigualdade social no total da mortalidade prematura, entre os dois períodos, em ambos os sexos. No sexo masculino, a desigualdade entre os residentes nas áreas de maior VS em comparação aos de baixa VS, aumentou de 58% para 81%, e no sexo feminino, aumentou de 58% para 93%. O aumento da desigualdade foi significativo, no sexo masculino, para as doenças cardiovasculares (de 35% para 88%) e doenças infecciosas e parasitárias (NS para 92%), e no sexo feminino para as neoplasias (NS para 41%). Em 2015-19, a causa que apresentou a maior desigualdade no sexo masculino foi o homicídio (RT=5,52) e, no sexo feminino, as Doenças Infecciosas e Parasitárias (RT=3,51). Conclusão: A desigualdade socioespacial na mortalidade prematura esteve presente na maior parte as causas analisadas e aumentou entre os dois triênios, atingindo a maior magnitude na mortalidade por homicídio, no sexo masculino, e nas mortes por doença infecciosas e parasitárias nas mulheres.
AUSTERIDADE E MORTALIDADE NA INFÂNCIA: FATORES E TENDÊNCIAS NO BRASIL DE 2004 A 2017
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Amaral, M. R. S.1, Leon, A. C. M. P.2
1 IME-UERJ
2 IMS-UERJ
Este estudo visa analisar com abrangência nacional fatores associados, tendências e a distribuição da mortalidade na infância a partir de dois painéis, sendo um de 830 municípios com estatísticas vitais adequadas e mais de 25.000 habitantes e outro painel complementar com os demais municípios brasileiros agregados por Unidades da Federação entre os anos de 2004 a 2017. Foram utilizados dados de estatísticas vitais de duas fontes: sistemas de informações em saúde do Ministério da Saúde; e estatísticas do registro civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os fatores associados envolvem a hipótese de efeitos da crise e das medidas de austeridade sobre o desfecho de mortalidade na infância. Utilizou-se indicadores do Programa Bolsa Família (PBF) e da Estratégia Saúde da Família (ESF) como exposições indicativas da austeridade. A análise estatística dividiu-se em duas abordagens de mesma modelagem multinível: versão múltipla log-log para estimar as associações das variáveis de exposição com o desfecho; e, versão com o artifício de splines cúbicas para estimação de tendências do desfecho. Os resultados indicam impactos da austeridade sobre as variáveis de exposição manifestados em inflexões de tendências do PBF e ESF. A política austera reverteu avanços nestes programas com impactos negativos apontados pelos modelos estatísticos sobre o nível das taxas de mortalidade na infância. Conclui-se que prosseguindo na rota austera estabelecida pela emenda do teto dos gastos o Brasil poderia continuar caminhando em sentido adverso ao estabelecido pela meta 3.2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, podendo não ter êxito no seu alcance em 2030.