Programa - Comunicação Coordenada - CC1.18 - Condições de trabalho, situação de saúde em grupos ocupacionais específicos

Objetivo
Descrever o processo de implementação da Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho (VCRT) em MG.

Métodos
Relato da experiência do planejamento e implantação de protocolo de notificação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do câncer relacionado ao trabalho (CRT) em MG, abrangendo: capacitação sobre VCRT; parcerias institucionais; eleição do câncer prioritário; elaboração do instrumento de coleta do histórico ocupacional; sensibilização de gestores dos hospitais; identificação dos casos em sistemas de informação em saúde; investigação epidemiológica em Saúde do Trabalhador; emissão de parecer quanto a notificação do caso no Sinan; monitoramento das notificações no Sinan e expansão das ações para outros tipos de cânceres.

Resultados
A estruturação das ações de VCRT em MG considerou a organização dos serviços de Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat) do SUS, o perfil produtivo do estado e os agentes reconhecidos como potencialmente/comprovadamente cancerígenos em literatura. Observou-se um aumento no número de notificações de CRT no Sinan, de 76 de 2008 a 2018, para 1310 de 2019 a 2023. Adicionalmente, 206 (dado final de 2023) municípios mineiros notificaram algum tipo de CRT no Sinan, demostrando a capilaridade das ações no estado.

Conclusões
A sensibilidade na captação de casos de CRT, e sua inserção qualificada no Sinan permitem a produção de informações que direcionem a compreensão da situação de saúde dos trabalhadores em seus ramos produtivos. Informações estas, fundamentais para a instituição de ações e intervenções nos ambientes de trabalho, com a finalidade de garantir processos laborais seguros e proteção à saúde do trabalhador.

Objetivos: Estimar a magnitude de acidentes de trabalho (AT) conforme jornada e ritmo de trabalho de entregadores em empresas-plataforma de entrega (EPE). Métodos: Conduziu-se a websurvey EpisSAT Entregadores no Brasil em 2022, com uso de questionário sobre características sociodemográficas, ocupacionais e de morbidade, entre estas, AT. Estimou-se a frequência de pelo menos um AT no último ano e esta foi descrita conforme características ocupacionais. Resultados: Participaram do estudo 563 entregadores. As medianas das jornadas de trabalho diária e semanal corresponderam a 10 e 60 horas, respectivamente. A maioria dos entregadores trabalha frequentemente em ritmo acelerado (69,7%), raramente ou nunca tem pausas no trabalho (74,1%). A prevalência de AT no período do último ano correspondeu a 44,1%, predominando os AT no trânsito (82,8%), mas entre aqueles que trabalhavam 60 horas ou mais na última semana e com ritmo acelerado a prevalência foi de 49,1% e 48,8%, respectivamente, enquanto entre aqueles que trabalhavam menos de 60 horas semanais e que raramente ou nunca trabalhavam com ritmo acelerado, a prevalência correspondeu a 39% e 33,7%, respectivamente. Conclusões: A elevada magnitude de acidentes de trabalho no trânsito verificada no presente estudo impõe o desenvolvimento de ações intersetoriais para sua prevenção. Intervenções sobre as jornadas extensas e a aceleração do ritmo de trabalho de entregadores subordinados a EPE são requeridas, agregadas a outras intervenções na organização do trabalho, para redução desta prevalência.

Objetivo: Descrever as condições de saúde e o perfil socioeconômico de pescadores expostos ao derramamento de petróleo Métodos: Trata-se de um estudo transversal, considerando como população os pescadores afetados pelo derramamento de petróleo no Nordeste Brasileiro ocorrido em 2019, os dados foram coletados por meio de entrevistas estruturadas aplicadas em pescadores em 40 municípios do nordeste. Foram analisadas variáveis como sexo, idade, raça/cor da pele, pesca como principal atividade econômica, identificação de exposição, participação voluntária na remoção, ocorrência de efeitos colaterais e busca de atendimento médico. A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva Resultados: Dos 1.999 pescadores entrevistados, (n=1.641; 82,1%) era do sexo masculino; A faixa etária predominante foi entre 25 e 59 anos (n=1.559; 79,9%), e a mediana foi de 47 de anos. Em relação a raça/cor da pele (n=1.734; 87,2%) identificaram-se como negros. A pesca se destacou como principal atividade econômica por (n=1.759; 88,7%) dos participantes, trabalharam como voluntários (n=431; 21,6%) na remoção do petróleo. Um total de 43 (10%) indivíduos apresentaram efeito colateral relacionado ao petróleo. A frequência daqueles que foram expostos e procuraram atendimento médico foi de (n=17; 39,5%). Conclusões: Os resultados destacam a predominância de participantes do sexo masculino e com a pesca como principal atividade econômica, refletindo as características demográficas e socioeconômicas da população afetada pelo derramamento de petróleo. Essas constatações ressaltam a importância de estratégias de saúde pública contínuas para monitorar e mitigar os impactos de eventos passados, como o derramamento de petróleo.

Objetivo: Investigar a associação entre trabalho noturno e ganho de peso em servidores públicos do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil).
Métodos: Trata-se de análise longitudinal utilizando dados de três ondas (2008-2017) do ELSA, coorte prospectiva multicêntrica de servidores públicos de seis instituições de ensino e pesquisa, totalizando 7.992 servidores. A exposição trabalho noturno foi definida pelo turno predominante, estabelecendo-se 4 trajetórias de turno laboral: trabalhadores sempre diurnos, sempre noturnos, migrantes de turno diurno para noturno e trabalhadores noturnos em algum momento; o desfecho ganho de peso foi avaliado pelo índice de massa corporal (IMC), durante o seguimento. A associação entre trabalho noturno e ganho de peso foi analisada por modelo linear de efeitos mistos.
Resultados: Os trabalhadores noturnos, desde a linha de base, apresentaram maior IMC quando comparados aos que nunca trabalharam à noite (β=0.55; 95%IC:0.32;0.78), contudo não foi observada diferença no ganho de peso ao longo do seguimento entre os grupos (β=-0.02; p-valor:0.3). Analisando as trajetórias laborais, o ganho de peso de quem migrou de trabalho diurno para noturno e de quem permaneceu no noturno foi superior quando comparados àqueles que trabalharam somente em turno diurno (β=0.63; 95%IC:0.11;1.16 e β=1.21; 95%IC:0.66;1.77, respectivamente). Ao estratificar por sexo, indivíduos do sexo feminino tiveram maior IMC que do masculino, quando atuantes no turno noturno (β=1.46; 95%IC:0.62;2.3) em comparação ao diurno.
Conclusão: As análises longitudinais confirmaram a hipótese de que o trabalho noturno está associado à maior ganho de peso e com maior magnitude no sexo feminino.

Objetivos: Estimar a prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) entre docentes universitários(as) em dois momentos da pandemia de COVID-19 (2020 e 2023), segundo gênero e lazer. Métodos: Estudo transversal, do tipo websurvey, realizado em duas fases: Fase 1 (junho/2020 a fevereiro/2021), com 777 docentes universitários(as) de duas universidades públicas da Bahia em trabalho remoto e Fase 2 (agosto a dezembro/2023) com 454 docentes universitários(as) após retorno das atividades presenciais. Os TMC foram avaliados pelo Self-Reporting Questionnaire. Estimaram-se prevalências de TMC segundo estratos de interesse. Empregou-se teste Qui-quadrado de Pearson na análise bivariada. Projetos aprovados no CEP/UFRB. Resultados: A prevalência de TMC em 2020 foi de 47,7% (n=759) e 2023 foi 46,7% (n=454). Nas duas fases da pesquisa a prevalência foi mais elevada entre as mulheres (2020=63,8% /n=460; 2023=65,1%/n=278), comparadas aos homens (2020=36,2%/n=310; 2023=34,9%/n=175). Verificou-se a associação entre TMC e gênero em 2020 (p- valor=0,0013) e não praticar atividade de lazer para distrair ou relaxar nos dois anos (ambos p-valor<0,001). Entre as mulheres, a prevalência de TMC foi incrementada em 22,0% em 2020 (RP=1,22; IC95%=1,04-1,43) comparadas aos homens; não praticar atividade de lazer aumentou essa prevalência mais de duas vezes em 2020 (RP=2,08; IC95%=1,11-2,44) e 60,0% em 2023 (RP=1,60; IC95%=1,33-1,93). Conclusões: As
disparidades de gênero no contexto da saúde mental vêm se mantendo ao longo do tempo e as mulheres foram mais afetadas. A falta de lazer tem sido um marcador importante para intensificar esse adoecimento. É necessário discutir políticas de enfrentamento pós- pandemia visando a proteção da saúde mental dos(as) docentes.