Programa - Comunicação Coordenada - CC1.22 - Entre Laços e Trauma: Violência Familiar, Relacional e Obstétrica
25 DE NOVEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
17:00 - 18:20
DISTRIBUIÇAO DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO SEGUNDO AS ADVERSIDADES NA INFÂNCIA
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Mairink, K. R.1, Santana, N. M. T.1, Pinto, I. B. A.1, Leite, F. M. C.1
1 UFES
Objetivo: Verificar a distribuição da prevalência de violência geral por parceiro íntimo (VPI) ao longo da vida segundo o histórico de adversidades na infância. Metodologia: Estudo transversal, realizado em Vitória, Espírito Santo, Brasil, com mulheres maiores de 18 anos que tiveram parceiro íntimo nos últimos 24 meses. Para a VPI, utilizou-se o World Health Organization Violence Against Women. As adversidades na infância foram avaliadas através do Adverse Childhood Experiences International Questionnaire da OMS, nas categorias de negligências emocional e física; conflitos familiares como o abuso de álcool, encarceramento de familiar, doenças mentais/ideação suicida e separação parental/divórcio e abusos físico, psicológico e sexual. Realizou-se análise descritiva e bivariadas no programa Stata® 14.0. Resultados: Maiores prevalências de VPI ao longo da vida foram evidenciadas entre as mulheres que relataram abuso físico na infância (56,8%; IC95%: 52,6-60,9); bem como, violência sexual (71,1%; IC95%: 62,6-78,3), violência psicológica/negligência emocional (57,9%; IC95%: 53,8-61,9) e física (63,1%; IC95%: 57,9-68). Outros fatores como a experiência na infância de abuso de álcool na família (65,9%; IC95%: 60,6-70,9); familiar encarcerado (72,2%; IC95%: 62-80,5), doenças mentais/ideação suicida 66,2% (IC95%: 59,3-72,4) e separação parental/divórcio (54,5; IC95%: 50,2-58,8) também foram relacionados a maior frequência de VPI. Conclusão: As experiências de adversidades na infância estiveram relacionadas a maior vitimização por parceiro íntimo ao longo da sua vida.
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: RESULTADOS PRELIMINARES DA PESQUISA NASCER NO BRASIL II
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Leite, T.H1, Mesenburg, M.A2, Marques, E.S1, Leal, M.C2, Costa, R.M1, Nakamura, M.P2
1 UERJ
2 Fiocruz
Objetivo : estimar a prevalência de violência obstétrica no Brasil, Macroregiões e em subgrupos vulneráveis. Método: Trata-se de uma coorte perinatal chamada “Nascer no Brasil II: pesquisa sobre aborto, parto e nascimento”. A amostra é composta por 465 hospitais (155 públicos, 155 mistos e 155 privados) com representatividade nacional e por macroregião. Ao final da coleta de dados, serão entrevistadas aproximadamente 24 mil mulheres, 2.205 por motivo de aborto e 22.050 por motivo de parto. A violência obstétrica foi aferida 120 dias após o parto/aborto através de entrevista por telefone ou link de autopreenchimento. Foi utilizado um questionário proposto pela OMS adaptado para o Brasil com cinco dimensões, a saber, violência física, violência psicológica, estigma e discriminação, negligência e toques vaginais inadequados. Resultado: até o presente momento, foram entrevistadas 12,049 mulheres, (65% do baseline). A prevalência de violência obstétrica física foi aproximadamente 1%; violência psicológica 19,0%; estigma e discriminação 5,4%; negligência 23,1% e toques vaginais inadequados 42,7%. Maiores prevalências foram encontradas na região norte do país, entre as mulheres assistidas no setor público, entre mulheres internadas devido a um aborto e que entraram em trabalho de parto. No total, 55% das mulheres sofreram pelo menos um ato de violência obstétrica. Conclusão: a violência obstétrica é uma realidade na assistência ao parto e ao aborto no Brasil e deve ser visto como um problema de saúde pública. Identificar subgrupos vulneráveis é imprescindível para mitigação desses atos.
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA NO NAMORO ENTRE OS ADOLESCENTES: ESTUDO DE BASE ESCOLAR
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Pinto, I.B.A.1, Leite, F.M.C.1
1 UFES
Objetivos: Identificar a prevalência de violência psicológica no namoro entre adolescentes do ensino médio residentes na Grande Vitória. Metodologia: Estudo descritivo realizado com 4613 adolescentes com idade de 14 a 19 anos, estudantes do ensino médio na região da Grande Vitória, Espírito Santo. Para o rastreio da violência psicológica (VP) foram utilizadas as seguintes perguntas: “Você já sofreu VP no namoro?” (sim/não); “Com que frequência isso acontecia?” (poucas vezes; muitas vezes; sempre). Para a realização das análises estatísticas foi utilizado o Stata 17.0. Resultados: A prevalência de VP no namoro contra as meninas foi cerca de 15% (IC95%: 13,6-16,4) enquanto entre os meninos a prevalência foi de 8,5% (IC95%: 7,4-9,8). Dentre as vítimas, 46,4% das meninas relataram que esse agravo ocorreu “muitas vezes”, para os meninos a frequência de “muitas vezes” foi de 36,1% (IC95%: 29,4-43,3). A VP no namoro aconteceu “sempre” para 7,7% das meninas e dos meninos (IC95%: 4,6-12,5). A faixa etária que mais sofreu VP no namoro foi a de 18 a 19 anos (14,05%; IC95%:11,5-17,1) em relação à raça/cor, os indígenas sofreram mais (18,33%; IC95%: 10,5-30,2). Conclusão: Observa-se uma maior prevalência da VP no namoro contra as meninas, que tendem a sofrer com mais frequência esse tipo de violência no namoro. Esses resultados mostram a problemática da naturalização da violência contra a mulher desde a adolescência, e a importância de estudos sobre este tema.
VIOLÊNCIA FAMILIAR E COMPULSÃO ALIMENTAR EM ADOLESCENTES: UMA ANÁLISE DE CAMINHOS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Marques de Matos, D.C.1, Marques, E.S.2, Vilela, A.A.F.3
1 UFG
2 IMS/UERJ
3 FM/UFJ
Objetivo: Analisar a relação entre a violência familiar e sintomas de compulsão alimentar entre adolescentes escolares. Métodos: Trata-se de um estudo transversal conduzido em escolas públicas e privadas da região metropolitana do RJ. A exposição à violência familiar (VF) na infância foi mensurada pelo Questionário sobre Traumas na Infância (QUESI) e a violência familiar na adolescência foi avaliada por meio da Conflict Tactics Scale (CTS-1). A compulsão alimentar (CA) foi aferida pela ocorrência de episódios de comer compulsivo nos três meses anteriores à entrevista. Um modelo teórico propositivo foi previamente elaborado a partir da literatura sobre VF e CA e testado por meio análise de caminhos no software MPlus. Resultados: A amostra de 1039 adolescentes foi composta majoritariamente por meninas (53,6%), indivíduos que se autodeclararam pardos/pretos (53,8%), classe socioeconômica B (53,2%) e 23,1% dos jovens relataram sintomas de CA. Em meninos, observou-se caminho direto entre a exposição à violência física e psicológica na adolescência (12 meses prévios à entrevista) e ocorrência de sintomas de CA. Em meninas, observa-se um caminho mediado por alterações de saúde mental, e também direto entre a exposição à violência física e psicológica na infância (até os 10 anos) e a ocorrência de CA na adolescência. A exposição à violência psicológica sofrida na adolescência (nos 12 meses prévios à entrevista) também apresenta caminho direto à ocorrência de sintomas de CA.
TRAJETÓRIAS DE PARENTALIDADE SEVERA E COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS AOS 18 ANOS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Xavier, M.O.1, Tovo-Rodrigues, L.2, Santos, I.S.2, Murray, J.2, Maruyama, J.M.3, Matijasevich, A.1
1 USP
2 UFPel
3 UPM
Objetivos: avaliar a associação entre trajetórias de parentalidade severa dos 6 aos 17 anos e competências socioemocionais aos 18 anos.
Métodos: foram utilizados dados do estudo Coorte de Nascimentos de Pelotas (Brasil) de 2004, originalmente composto por 4.231 nascidos vivos. A parentalidade severa foi mensurada pela Escala de Táticas de Conflito entre Pais e Filhos, em inglês, Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC) nas idades de 6, 11, 15 e 17 anos. As trajetórias foram identificadas utilizando uma abordagem de modelagem baseada em grupos. As competências socioemocionais incluíram regulação emocional, avaliada pelo Emotional Regulation Index for Children and Adolescents (ERICA); autoestima, mensurada pela Rosenberg Self-esteem Scale; comportamento pró-social e problemas de relacionamento com pares, ambos avaliados pelo Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Modelos lineares multivariados e regressão de Poisson foram aplicados para examinar os efeitos das trajetórias de parentalidade severa nas competências socioemocionais, ajustando-se para variáveis de confusão.
Resultados: foram identificadas três trajetórias: “baixa parentalidade severa” (49,7%), “moderada parentalidade severa” (44,7%) e “alta parentalidade severa” (5,6%). Em comparação com adolescentes do grupo de baixa parentalidade severa, aqueles que experimentaram uma trajetória de alta parentalidade severa exibiram pontuações mais baixas nas escalas de regulação emocional (B= -3,49; IC95%: -4,65; -2,32), autoestima (B= -0,97; IC95%: -1,75; -0,19) e de comportamento pró-social (RR: 0,90; IC95%: 0,87; 0,95) e pontuações mais altas na escala de problemas de relacionamento com pares (RR: 1,23; IC95%: 1,10; 1,38).
Conclusões: nosso estudo amplia as evidências dos efeitos adversos da parentalidade severa e persistente nas competências socioemocionais durante a adolescência.