Programa - Comunicação Coordenada - CC1.26 - Alimentação e vulnerabilidade
25 DE NOVEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
17:00 - 18:20
DESERTOS ALIMENTARES E POBREZA ALIMENTAR EM MENORES DE 2 ANOS: DADOS DO SISVAN 2015-2019
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Sousa, J. T. A.1, Junior, P. C. P. C.1, Lourenço, B. H.2, Salvatte, K. S.1, Oliveira, N. T.1, Cursino, G. N.1, Freitas-Costa, N. C.1, Farias, D. R.1
1 UFRJ
2 USP
Objetivo: Investigar a associação de desertos alimentares com a pobreza alimentar moderada (PAM) e grave (PAG) em crianças de 6-23 meses. Métodos: Análise transversal com microdados de 602.819 crianças de 6-23 registradas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN, 2015-2019). A diversidade alimentar mínima (DAM) foi estimada por meio dos Marcadores de Consumo Alimentar e classificada segundo a Organização Mundial de Saúde, considerando o consumo ≥5 grupos alimentares entre 1.leite materno, 2.cereais, 3.frutas e vegetais ricos em vitamina A, 4.carnes, 5.ovos, 6.leguminosas, 7.outras frutas e vegetais e 8.outros leites e derivados. Classificou-se a ausência de DAM em PAM (consumo de 3-4 grupos) e PAG (≤2 grupos). Desertos alimentares foram definidos em âmbito municipal, segundo densidade de estabelecimentos saudáveis/10 mil habitantes abaixo do percentil 25 conforme estudo técnico da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (2016). As análises incluíram cálculo de prevalências e intervalos de confiança de 95% (IC95%) e modelos de regressão logística multinomial. Resultados: A prevalência de municípios classificados como desertos alimentares foi de 25,0% (IC95%:24,9;25,1), sendo mais prevalente na região Nordeste (44,9%; IC95%:44,6;45,1) comparado com as demais. A prevalência de PAM (15,1%, IC95%:14,9;15,3) e PAG (8,7% IC95%:8,5;8,8) foi significativamente maior em municípios classificados como desertos alimentares. Crianças residentes em municípios classificados como desertos alimentares apresentaram maior razão de prevalência de PAM (RP=1,7; IC95%=1,6;1,7;p=<0,001) e PAG (RP=1,9;IC95%=1,8;1,9;p=<0,001) quando comparados a não desertos. Conclusões: A condição de pobreza alimentar está associada à exposição a desertos alimentares, destacando a relevância da localização geográfica na determinação do acesso alimentar.
VULNERABILIDADE SOCIAL E QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR NA COORTE MINA-BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Moreira, S. M.1, Giacomini, I.1, Mazzucchetti, L.2, Cardoso, M. A.1
1 Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo
2 Coordenadoria Regional de Criciúma – Governo do Estado de Santa Catarina
Objetivo: Analisar indicadores da alimentação complementar segundo características socioeconômicas em uma coorte de nascimentos em Cruzeiro do Sul, Acre.
Métodos: Compuseram o estudo crianças nascidas entre julho de 2015 e junho de 2016 participantes do seguimento de 1 ano de idade da coorte (n=774). Para coleta de dados alimentares, foi utilizado um inquérito estruturado de consumo alimentar de 24 horas relativo ao dia anterior. A diversidade mínima da dieta e o zero consumo de frutas e vegetais foram considerados como desfechos principais. Para investigar os fatores associados à qualidade da alimentação, foram elaborados modelos multivariados de regressão de Poisson, considerando informações socioeconômicas, demográficas, obstétricas, neonatais, de morbidades e práticas alimentares como variáveis independentes. Os dados foram analisados utilizando o software Stata 16.0, p≤0,05.
Resultados: A diversidade mínima da dieta com 1 ano demonstrou ser menos frequente entre as crianças de famílias com menores índices de riqueza (1º tercil [RP: 0,74; IC 95% 0,63-0,86]; 2º tercil [RP: 0,90; IC 95% 0,82-0,9]; 3º tercil, referência) e cujas mães não realizavam atividade remunerada (RP: 0,87; IC 95% 0,80-0,95). O zero consumo de frutas e vegetais foi mais frequente entre as crianças de famílias com menores índices de riqueza (1º tercil [RP: 4,89; IC 95% 2,90-8,24]; 2º tercil [RP: 2,48; IC 95% 1,45-4,23]; 3º tercil, referência). Gráficos equiplots foram criados a fim de descrever visualmente tais disparidades.
Conclusão: Concluiu-se que maior vulnerabilidade social e econômica foi inversamente associada a diversidade mínima da dieta e positivamente associada ao não consumo de frutas e vegetais.
ÁFRICA: IMPACTO DAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS NA PERDA DE ALIMENTOS E DESNUTRIÇÃO
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Waldhelm, A.C.1, Nepomuceno, G.C.2, Simões, B.F.T.1
1 UNIRIO
2 UERJ
A perda de alimentos refere-se ao desperdício que ocorre ao longo de toda a cadeia de produção até a fase de distribuição, antes que os alimentos cheguem ao consumidor final. A desnutrição, por sua vez, é caracterizada pela ingestão insuficiente de calorias necessárias para manter uma vida saudável e ativa. O objetivo deste estudo é determinar a relação entre a perda de alimentos e a desnutrição em 48 países da África, correlacionando-a com variáveis sociodemográficas, no período de 2010 a 2021. Trata-se de um estudo ecológico que utiliza dados secundários obtidos de bancos de dados de acesso aberto, abrangendo 48 países africanos reconhecidos pela ONU, no período de 2010 a 2021. A metodologia adotada incluiu a Análise de Componentes Principais das produções de alimentos para definir os padrões alimentares de 2010 a 2021. Além disso, todos os países foram divididos em três grupos com características comuns, utilizando a Análise de Agrupamento (Cluster) que foi feita a partir dos dois componentes que descreviam o comportamento alimentar do continente, juntamente com a variável resposta de desnutrição. Foram calculadas medidas resumo para cada variável, seguidas pelo Teste de Normalidade de Shapiro-Wilk. Em seguida, foram aplicados testes paramétricos (ANOVA) e não paramétricos (Kruskal-Wallis). Testes post-hoc Dunn e Tukey foram utilizados para identificar quais dos três grupos se destacaram em cada variável. Foi adotado um nível de significância de 5%. Os resultados evidenciaram uma correlação entre as características sociodemográficas específicas de cada grupo e o desperdício de grupos importantes de alimentos que compõem o padrão alimentar de muitos países do continente, como os cereais.
INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E TRAJETÓRIA DE INSEGURANÇA ALIMENTAR EM LARES COM CRIANÇAS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Rodrigues, E. C.1, Santos, C. C. D.1, Camargo, P. P.1, Mendonça, R. D.1, Meireles, A. L.1
1 UFOP
Objetivos: Analisar a relação de indicadores sociodemográficos com mudanças na insegurança alimentar em domicílios com crianças, entre 2020 e 2022.
Métodos: Estudo longitudinal com amostra probabilística de domicílios (N=612) de alunos da rede pública de Mariana e Ouro Preto, Minas Gerais. Dados foram coletados em quatro momentos: junho a julho/2020; março a maio/2021; dezembro/2021 a janeiro/2022 e setembro a novembro/2022. A insegurança alimentar foi avaliada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Indicadores sociodemográficos foram: renda familiar, acesso a programas sociais, ao auxílio emergencial e a cesta básica. Aplicou-se teste de Wilcoxon Pareado com correção de Holm e Modelos Lineares Generalizados para avaliação das mudanças ao longo do tempo.
Resultados: Entre 2020 e 2022 houve diminuição na proporção da insegurança alimentar de 82% na linha de base para 58,8% no último seguimento (p<0,001), porém os domicílios com renda familiar de até meio salário-mínimo possuíam maiores valores de insegurança alimentar. Nos domicílios com beneficiários de programas sociais, a insegurança alimentar foi maior (p< 0,001). Nos lares com auxílio emergencial, a insegurança alimentar aumentou significativamente ao longo do tempo (p< 0,001). Em 2020 (RT=1,5;IC95%:1,25;1,82) e março de 2021 (RT=1,54;IC95%:1,18;2,02) os domicílios beneficiados com a cesta básica tiveram maiores valores de insegurança alimentar.
Conclusão: Houve redução da insegurança alimentar entre 2020 e 2022 na maioria dos domicílios, mas essa tendência não ocorreu para as famílias em situação de vulnerabilidade.
ALEITAMENTO MATERNO E CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Oliveira, N.A1, Gonçalves, V. S. S1, Pizato, N.1, Patriota, E. S. O1, Carmo, A. S.1, Buccini, Gabriela2
1 UNB
2 UNLV
Objetivo: Descrever indicadores de aleitamento materno e consumo alimentar de crianças de 0 a 24 meses assistidas pelo programa Criança Feliz, investigando sua associação com indicadores socioeconômicos e de adesão ao programa. Metodologia: Trata-se de um estudo observacional, de delineamento transversal, realizado com crianças em situação de vulnerabilidade social assistidas pelo Programa Criança Feliz, Distrito Federal, Brasil. Empregou-se questionário estruturado para avaliar a situação socioeconômica, adesão ao programa, situação atual de aleitamento materno e marcadores de consumo alimentar. Foi realizada análise multivariada para identificar fatores associados ao aleitamento materno e ao consumo alimentar. Obteve-se aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Brasília. Resultados: 301 crianças participaram do estudo. Foi independentemente associada à situação de aleitamento materno atual, a situação atual de trabalho da mãe, sendo maior entre mulheres que não trabalhavam (RP= 1,62, IC95%: 1,10-2,39, p= 0,015). A diversidade alimentar mínima entre as crianças com mais de 6 meses foi de 62,21% e estava associada à adesão ao programa (RP= 1,37, IC95%: 1,10-1,71, p= 0,005). O consumo de alimentos ultraprocessados foi de 77,21% e se associou ao maior tempo de acompanhamento pelo programa (RP= 1,14, IC95%: 1,00-1,29, p= 0,047). Conclusões: As associações observadas revelaram a necessidade de integrar ações de educação alimentar e nutricional às políticas públicas voltadas à primeira infância. Recomenda-se a orientação dos visitadores sobre o tema para serem capazes de promover o aconselhamento para uma alimentação saudável.