Programa - Comunicação Coordenada - CC2.2 - Saúde de Populações Negras e Quilombolas 2
26 DE NOVEMBRO | TERÇA-FEIRA
09:40 - 11:00
DESIGUALDADES RACIAIS NA OCORRÊNCIA DE MULTIMORBIDADE ENTRE ADULTOS E IDOSOS BRASILEIROS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Oliveira, F. E. G.1, Griep, R. H.2, Chor, D.3, Barreto, S. M.4, Molina, M. C. B.5, Machado, L. A. C.6, Fonseca, M. J. M.3, Bastos, L. S.7
1 FIOCRUZ e UFMG
2 IOC/FIOCRUZ
3 ENSP/FIOCRUZ
4 Faculdade de Medicina/UFMG
5 UFES e UNIFAL
6 HC/EBSERH-UFMG e Science Integrity Alliance
7 PROCC/FIOCRUZ
Objetivos. Investigar desigualdades raciais na ocorrência de multimorbidade entre a linha de base (2008-2010) e a segunda visita de seguimento (2017-2019) do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto. Métodos. A multimorbidade foi avaliada por 16 condições crônicas e foram estimadas razões de prevalências para 14099 participantes no início da coorte. Na sequência, foram avaliados dados de seguimento de 4214 participantes que estavam em risco para desenvolver multimorbidade, estimando-se medidas de ocorrência e razões das taxas de incidência com modelos de Poisson. Por fim, foi estimada a idade média de alcance da multimorbidade e avaliado o acúmulo de condições crônicas a partir de modelos binomiais negativos de efeitos mistos. Resultados. Na linha de base, a prevalência de multimorbidade foi 6% e 9% maior para autodeclarados pardos e pretos em relação aos brancos, respectivamente. Em 10 anos da coorte, a incidência de casos novos de multimorbidade foi de 41%, mas pardos e pretos apresentaram, respectivamente, 12% e 20% mais incidência que brancos, desenvolvendo mais hipertensão, diabetes e obesidade. Em todo o seguimento, participantes pardos e pretos apresentaram contagens de condições crônicas mais elevadas e a multimorbidade foi alcançada, em média, aos 55 (pretos), 57,5 (pardos) e 59 anos (brancos), mas aos 45 anos para mulheres pretas e 59 anos para homens brancos. Conclusões. Os resultados sugerem que a multimorbidade é mais prevalente, incidente, surge mais cedo e progride mais rápido para grupos historicamente discriminados. É provável que múltiplos mecanismos de racismo e discriminação possam interagir no curso de vida produzindo esses resultados.
INIQUIDADES RACIAIS E SOCIOECONÔMICAS NO WEATHERING: ESTUDO ELSA-BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
MACHADO, A. V.1, NEEDHAM, B.L.2, GIATTI, L.1, BARRETO, S.M.1, CAMELO, L.V.1
1 UFMG
2 UNIVERSITY OF MICHIGAN
Objetivos: A hipótese de desgaste biológico (weathering em inglês) sugere que a exposição constante à opressão social como a ocasionada pelo racismo e pelas disparidades socioeconômicas acelera o envelhecimento biológico, levando ao adoecimento e morte precoce entre os expostos. Avaliamos se a raça/cor e a posição socioeconômica (PSE) estão relacionados ao desgaste em adultos brasileiros. Métodos: Estudo transversal realizado com 11.303 participantes do ELSA-Brasil. O desgaste biológico foi aferido pela diferença entre a idade biológica, obtida pela combinação de nove biomarcadores, e a idade cronológica. Escolaridade e classe socio-ocupacional foram utilizados como indicadores de PSE. Modelos de regressão linear estratificados por grupos de idade (35–44 anos, 45-54 anos e 55-73 anos) e ajustados por sexo e centro de pesquisa foram utilizados. Resultados: Pardos [β=0.52;IC95%=0.42-0.63] e pretos [β=0.85;IC95%=0.72; 0.97] apresentaram maior desgaste biológico do que os brancos. Indivíduos de classe socio-ocupacional baixa [β=1.06;IC95%=0.94-1.18] e média [β=0.66;IC95%=0.55-0.76)] apresentaram maior desgaste do que os de classe alta. Indivíduos com ensino médio completo [β=0.74;IC95%=0.64-0.84], fundamental completo [β=1.13;IC95%=0.96-1.30] e fundamental incompleto [β=1.64;IC95%=1.44-1.84] apresentaram maiores médias de desgaste biológico, com gradiente dose-resposta, quando comparados aos de ensino superior ou mais. Para todos os indicadores sociais as médias de desgaste biológico aumentaram com o aumento da idade cronológica indicando que o desgaste é cumulativo ao longo do tempo. Conclusões: demonstramos que indivíduos expostos às desvantagens sociais como o racismo e a baixa PSE apresentaram maior desgaste biológico do que aqueles com maior PSE, sugerindo ser um caminho explicativo para iniquidades sociais e raciais em saúde.
ANÁLISE DE INIQUIDADES INTERSECCIONAIS NA OCORRÊNCIA DE OBESIDADE EM ADULTOS BRASILEIROS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Fanton, M.1, Canuto, R.2, Constante, H. M.3
1 UFSM
2 UFRGS
3 University of Sheffield
Objetivo: Descrever a associação de desigualdades entre grupos interseccionais e com obesidade na população adulta brasileira através de uma nova abordagem metodológica.
Métodos: Estudo transversal a partir dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde-2019. Foram analisados 70.452 indivíduos maiores de 18 anos. O desfecho foi obesidade. A variável independente foi baseada na intersecção de múltiplas variáveis sociais: gênero, raça, idade, escolaridade e renda. Regressão logística foi realizada utilizando o modelo multinível de heterogeneidade individual e acurácia discriminatória com abordagem interseccional (I-MAIHDA). A abordagem permite estimar diferenças médias entre estratos interseccionais e explorar os efeitos da interação dentro e entre estratos. Toda análise foi conduzida no software R.
Resultados: Verificou-se que pessoas acima de 36 anos, mulheres (OR: 1.22) e pretas (OR: 1.13) têm maior chance de terem obesidade, ao contrário de pessoas com alto nível de escolaridade (OR: 0.86), se comparadas a seus grupos de referência. Em relação à média nacional (21.3%), estratos de homens e mulheres pretas acima de 53 anos de renda média e alto nível educacional apresentam maior prevalência predita de obesidade (acima de 35%). Por outro lado, o grupo de estratos sociais com menor obesidade (até 13%) é mais heterogêneo. Embora o método I-MAIHDA investigue os efeitos dos estratos interseccionais, no presente estudo, a maior parte das iniquidades da prevalência de obesidade foi observada a nível individual do modelo.
Conclusão: A abordagem metodológica utilizada permite mapear, de maneira mais granular, quais estratos interseccionais possuem maior prevalência de obesidade entre adultos brasileiros.
DISTRIBUIÇÃO DOS HOMICÍDIOS E PRODUÇÃO DO ESPAÇO EM UMA CIDADE RACIALMENTE CINDIDA
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Silva, D. F. L.1, Lyra, T. M.1, Silva, A.P. S. C.2, Faustino, M. D.3, Santos, M. P. R.1, Albuquerque, M. S. V.4
1 Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-Pernambuco
2 UFPE - CAV
3 UNIFESP – Campus Baixada Santista
4 UFPE
O objetivo do estudo foi analisar os efeitos da produção de uma cidade racialmente cindida na distribuição da ocorrência de homicídios no município do Recife. Trata-se de um estudo transversal e ecológico, cujo local de estudo foi o Recife, capital do estado de Pernambuco. O período de estudo contemplou os anos de 2012 a 2021 e a população de estudo foram as vítimas de homicídios provocados por disparo por arma de fogo. Para as análises, o período de estudo foi dividido em dois quinquênios. Observou-se a determinação do racismo no perfil das vítimas: pessoas do sexo masculino (95%), negras (86%), jovens (67%) e com baixa escolaridade (78%). A análise espacial realizada demonstrou pontos de maior incidência de assassinatos no Recife, setores censitários estatisticamente significante de maior risco na cidade 2012-2016 (RR=5,7; p=0,031) e 2017-2021 (RR=1,8; p=0,032) e proteção 2012-2016 (RR= 0,3; p=0,001; 0,006 p=0,014) e 2017-2021 (RR=0,1; p=0,001; RR=0,1; p=0,001), e, a maior incidência de homicídios nos territórios com maior Índice de Privação Social (IPS).
Buscamos evidenciar que o presente cenário não é fruto da aleatoriedade, do contrário, surge como produto histórico, ou rasgos coloniais e escravistas, e demostram a continuidade da violência na dialética de construção do espaço social. Estamos tratando de violências historicamente perpetuadas e que só podem ser modificadas por intermédio de transformações radicais na vivência e reprodução do espaço urbano, que permitam às pessoas condições dignas de produção de suas vidas e do uso coletivo do espaço da cidade.
QUILOMBOS E VIOLÊNCIA: ESTUDO EM COMUNIDADES DA BACIA E VALE DO IGUAPE, CACHOEIRA-BA, 2023
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Borges, D.1, Barros, R.1, De Freitas Neto, W. A.2, Prates, T.1, Pereira, J. C.1, Souza, T. O. M.3, Jovelino, R. V.4, Meneses, A.5, Rocha, V. P.1, Miranda, S. S.1, Lacerda, R. S.6, Nery, J. S.1
1 Instituto de Saúde Coletiva - ISC/UFBA
2 Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
3 Instituto Multidisciplinar de Reabilitação e Saúde - IMRS/UFBA
4 Mulheres Quilombolas da Bacia e Vale do Iguape - Marias Felipas
5 Faculdade de Medicina da Bahia - FMB/UFBA
6 Universidade Federal de Sergipe - UFS
Objetivos: Analisar fatores associados à ocorrência de violências em quilombos da Bahia, em 2023. Métodos: Estudo transversal, realizado com indivíduos maiores de 14 anos, residentes em seis comunidades quilombolas: Kaonge, Dendê, Kalemba, Engenho da Ponte, Engenho da Praia e Engenho da Cruz, na Bacia e Vale do Iguape, Cachoeira-Ba, entre abril-outubro de 2023. Investigou fatores associados a eventos violentos, mediante quatro perguntas incluídas no inquérito: sobre ter sofrido algum tipo de violência/violação de direitos no território, seu tipo, o contexto e o agente causador, além de características individuais. Projeto aprovado pelo comitê de ética em pesquisa, parecer n°5.809.996. Resultados: Dos 254 entrevistados, 91(35,8%) declararam ter sofrido violência, destes 52(57,1%) eram mulheres cis, 68(76,4%) na faixa 20-59 anos e 78(85,7%) de raça/cor preta. Nas variáveis de múltiplas entradas, 139 relataram algum tipo de violência, destes, 95(37,4%) mencionaram falta de políticas públicas e 36(14,2%) relataram ameaças/perseguições/intimidações. Quanto ao contexto, 31(12,2%) citaram racismo institucional, e sobre o agente causador, 72(28,3%) apontaram o Estado (Executivo) e 31(12,2%) desconhecidos. Ter algum espaço para atividade física/esporte/cultura/lazer próximo ao domicílio (RP:0,68; IC95%:0,48-0,96) e utilizá-los (RP:0,52; IC95%:0,29-0,95) mostrou associação com não ter sofrido violência. Conclusões: Os resultados demonstram que investimentos em políticas públicas que ampliem o acesso à cultura, esporte e lazer, podem ajudar a reduzir a violência nos territórios quilombolas.