Programa - Comunicação Coordenada - CC2.5 - Saúde Mental no Ambiente de Trabalho: Assédio, Ideação Suicida e Impactos da Covid-19
26 DE NOVEMBRO | TERÇA-FEIRA
09:40 - 11:00
ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E IDEAÇÃO SUICIDA NA APS E MÉDIA COMPLEXIDADE DO SUS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Feijó, F.R.1, Reis, E.S.1, Helioterio, M.C.2, Araujo, T.M.3
1 UFBA
2 UFRB
3 UEFS
Objetivos: analisar a associação entre a exposição ao assédio moral no trabalho e ideação suicida (IS) em trabalhadores/as da saúde da atenção primária à saúde (APS) e média complexidade em 2021/22. Métodos: Estudo transversal com amostra probabilística (estratificada e proporcional) dos/as trabalhadores/as da APS e média complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS) de três municípios baianos (pequeno, médio e grande porte). Foi utilizada uma pergunta do Self Reporting Questionnaire(SRQ-20) para mensuração da IS e o self-labelling method, com a definição de assédio moral e uma pergunta específica sobre ter sofrido tal prática ao longo dos últimos 6 meses para avaliar exposição ao assédio. Utilizaram-se outros instrumentos validados para mensurar covariáveis psicossociais, como esforços, recompensas, demanda, controle. Estimaram-se razões de odds e intervalos de confiança 95% por meio da Regressão Logística múltipla. Resultados: 1015 trabalhadores/as participaram do estudo (taxa de resposta >80%). A prevalência geral de IS foi de 4,0% e de assédio foi 17,7%. Trabalhadores/as expostos a assédio moral tiveram 3,6 vezes a chance de apresentarem IS (OR=3,63; IC95%1,61-8,20), mesmo após ajuste para fatores de confusão sociodemográficos e ocupacionais, incluindo estressores laborais. Conclusão: O assédio moral é um fator de risco independente de outros estressores laborais, podendo ter papel relevante para a ocorrência de IS, com forte magnitude de efeito. A eliminação da prática de assédio é premente para melhoria de processos de trabalho no SUS e prevenção de desfechos grave de saúde mental.
FATORES PARA O RETORNO SUSTENTADO AO TRABALHO APÓS AFASTAMENTO POR TRANSTORNO MENTAL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Silva-Junior JS1, Muntanelli BR2, Cunha AA3, Fischer FM3
1 Centro Universitário São Camilo
2 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
3 Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Objetivos: Analisar os fatores preditores para o retorno sustentado ao trabalho (RST) após afastamento por transtornos mentais. Métodos: Estudo longitudinal realizado entre 2014-2017 na cidade de São Paulo. Participaram 255 trabalhadores que buscavam um benefício por incapacidade laborativa em decorrência de adoecimento mental. Todos responderam a questionários sobre informações sociodemográfica e ocupacionais, e permitiram acesso ao seu laudo médico pericial. O RST foi definido como um retorno às atividades laborais por um período mínimo de 30 dias, sem novos afastamentos por doença. Os fatores preditores para o RST foram analisados por modelos de regressão logística múltipla, sendo considerada a significância estatística valor p<0,05. Resultados: A maior parte era do sexo feminino (74,1%), idade média 37 anos (desvio padrão 8,7), trabalhavam em atividades administrativas ou de supervisão (40,4%), com diagnóstico de depressão (53,3%). Houve RST em 63,5% dos casos. Os fatores associados ao RST foram tempo na função há mais de um ano (Odds Ratio - OR 3,25; Intervalo de Confiança - IC95% 1,03-10,28) e retorno ao trabalho em setor diverso do original (OR 2,90; IC95% 1,01-8,32), em modelo final ajustado por sexo, faixa etária, histórico de benefícios prévios e modelo desequilíbrio esforço-recompensa. Conclusões: A maioria dos participantes que tentaram retornar ao trabalho conseguiram permanecer no exercício laboral por mais de trinta dias sem novos episódios de afastamento. A experiência superior a um ano na empresa e a mudança no setor de trabalho no momento do retorno influenciam na permanência dos trabalhadores após reintegração laboral.
DETERMINANTES DA IDEAÇÃO SUICIDA EM TRABALHADORES: UMA MODELAGEM COM EQUAÇÕES ESTRUTURAIS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Palma, T. F.1, Teixeira, J. R. B.1, Morais, A. C.1, Lua, I.1, Pinho, P. S.2, Heliotério, M. C.2, Araújo, N. C.1, Araújo, T. M.1
1 UEFS
2 UFRB
Objetivo: analisar os efeitos diretos e indiretos de determinantes da ideação suicida-IS em trabalhadores(as), com foco na insatisfação global como exposição principal. Métodos: Estudo transversal com amostra probabilística (por conglomerados) de 1.629 trabalhadores(as), com 15 anos ou mais, residentes na zona urbana de município baiano em 2018-19. Aplicou-se questionário estruturado, incluindo dados sociodemográficos, ocupacionais e de atividades de lazer. Os estressores ocupacionais foram investigados pelo Effort-Reward Imbalance e Job Content Questionnaire; a insatisfação global foi mensurada por indicadores do WHOQOL-bref; e a IS pelo item 17 do Self-Reporting Questionnaire. Estimada Modelagem de Equações Estruturais, com ponderação pelo peso amostral. Resultados: Estimada prevalência de IS de 5%, determinada diretamente pela insatisfação global (β=0,72; p-valor=0,001) e alta demanda emocional do trabalho (β=0,27; p=0,007). Ser mulher com baixo lazer (β=0,24; p-valor=0,001) e insatisfação com o trabalho (β=0,27; p-valor<0,001); mulher com baixa renda/mês (β=0,21; p-valor<0,001) e insatisfação (β=0,65; p-valor<0,001); mulher com alta demanda emocional no trabalho (β=0,15; p-valor=0,042); mulher, maior renda e ausência de lazer (β=-0,28; p-valor=0,033), mediadas pela insatisfação (β=0,65; p-valor<0,001); comprometimento excessivo desencadeia demanda emocional (β=0,24; p-valor=0,013); comprometimento excessivo mediado pela insatisfação (β=0,45; p-valor<0,001); e, ausência de lazer, implicando em maior insatisfação (β=0,27; p-valor<0,001). Todos apresentaram efeitos indiretos significantes para IS. Conclusão: Os determinantes indicados possibilitam a compreensão de uma cadeia de acontecimentos que vulnerabiliza o trabalhador(a) a um nível insuportável de sofrimento, que considera o suicídio como solução para seus problemas. Ações interventivas de promoção e prevenção de sofrimento/adoecimento mental precisam ser urgentemente pautadas pela vigilância em saúde do(a) trabalhador(a).
PERSISTÊNCIA DE SINTOMAS APÓS A COVID-19 ENTRE TRABALHADORES DE SAÚDE
Comunicação coordenada (apresentação oral)
MACHADO, L. P.1, Paz, L.Y.S.1, MOTA, K.O.1, SANTANA, G. S.1, Araújo-dos-Santos, T.1, Almeida, M. M. C.1
1 UFBA
Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico dos trabalhadores de saúde (TS) com persistência de sintomas após a COVID-19. Métodos: Estudo epidemiológico descritivo, com dados secundários da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), IBGE, no 1º trimestre de 2023. A população de estudo foram os TS, acima de 18 anos de idade, que referiram sintomas persistentes após 30 dias do diagnóstico da COVID-19 As variáveis sociodemográficas, ocupacionais e de sintomas Pós COVID-19 foram descritas em percentuais. Resultados: O grupamento de trabalhadores das atividades da saúde e da educação apresentaram maior prevalência de sintomas persistentes após 30 dias da COVID-19 (16,9%), juntamente com trabalhadores dos serviços e comércio (16,8%). Dentre os TS com persistência de sintomas pós COVID-19, a maioria era: mulheres (80,3%), negras (52,1%), na faixa etária de 31-50 anos (57,5%), profissionais de nível médio (21,2%) e superior de enfermagem (8,9%), do setor público (48,8%). Dessas, 16,7% referem estar em trabalhos temporários, 38,7% com renda entre 1 e 2 salários mínimos e 44,1% sem contribuição previdenciária. A maioria refere vacinação contra a COVID-19 (99,1%) e que foram internadas em consequência da COVID-19 (9,0%). Os principais sintomas persistentes foram: cansaço/fadiga (38,8%), problema de memória/atenção ou dificuldade na fala (30,8%) e dores osteomioarticulares (26,0%). Conclusões: Mulheres negras, adultas jovens, trabalhadoras da enfermagem, especialmente as de nível técnico, com menor renda e proteção social, são as mais acometidas por sintomas persistentes da COVID-19.
ESTADO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO EM TRABALHADORES DE TRANSPORTE COLETIVO NA REGIÃO NE
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Jesus, G. S.1, Moreira, G. O.1, Leal, M. C. A.1, Coelho, A. L. P. V.1, Almeida, A. C.2
1 UNIFACS
2 UNIFACS / Sesab /Divast
Objetivo: Investigar o perfil epidemiológico dos casos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) em trabalhadores de transporte coletivo na Região Nordeste.
Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, tipo casuística, de TEPT ocorrido em trabalhadores de transporte coletivo da Região Nordeste do Brasil, de 2010 a 2021. A variável TEPT relacionada ao trabalho foi definida a partir do diagnóstico específico da ficha de investigação do SINAN e do código F43, do CID-10. Calcularam-se as frequências absolutas e relativas dos casos de TEPT de acordo com as variáveis sociodemográficas e ocupacionais no período analisado. Para tanto utilizou-se o Roteiro do SinanNET.
Resultados: Foram analisados 1.522 casos notificados de TEPT no Nordeste, de 2010 a 2021, destes 386 entre trabalhadores dos serviços. Delineando um perfil de trabalhadores do sexo masculino, com faixa etária de 18 a 40 anos, raça/cor parda, empregados registrados. O estado nordestino de maior número de casos foi o Rio Grande do Norte com 48,2%. Percentual de afastamento em 72,6% e com alguma incapacidade em 85% dos casos.
Conclusões: A instituição da Portaria GM/MS nº 777/2004, associada à implantação dos Cerest, constituíram fatores importantes para a vigilância em Saúde do Trabalhador. Todavia, é preciso ressaltar a necessidade de melhores registros tanto no que tange a cobertura quanto a qualidade dos dados do TEPT. Preconceito com a saúde mental e baixa capacitação dos trabalhadores para a notificação em saúde mental são questões que merecem destaque e podem influenciar na possível subnotificação deste agravo.
EPIDEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO NO BRASIL, 2006 A 2023.
Comunicação coordenada (apresentação oral)
BAIO,K.D.1, SOUZA,T.P.1, GARCIA,K.K.S.1, BRANT, JONAS LOTUFO.1
1 UNB
OBJETIVO: Descrever o perfil epidemiológico dos transtornos mentais relacionados ao trabalho, entre 2006 a 2023, no Brasil. MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, realizado por meio da análise dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) com utilização de estatística descritiva. RESULTADOS: Na amostra, 22.131 pessoas tiveram algum tipo de transtorno mental relacionado ao trabalho. Houve maior prevalência de casos entre pessoas do sexo feminino (N=14.346 casos; 64,8%), de raça/cor branca (N=9.737; 43,9%), com ensino médio completo (N=6.655; 30%). As ocupações mais afetadas foram técnicos de enfermagem (N=885; 3,9%) e professores da educação de jovens e adultos do ensino fundamental (N=689; 3,1%). O Estado de São Paulo foi o de maior notificação (N=5.592; 25,2%) seguido por Minas Gerais (N=4.178; 18,8%). As causas mais frequentes de adoecimento foram por reação aguda ao ‘stress’ (N=6.170; 27,8%) e transtorno de pânico (N=4.525; 20,4%). Também, registrou-se 11.247 (50,8%) afastamento do trabalho e 12.511(56,5%) tiveram incapacidade temporária. CONCLUSÃO: O aumento destes eventos ao longo dos anos evidencia um aumento da sensibilidade da população trabalhadora em buscar serviços para estes problemas de saúde, assim como aumento da sensibilidade dos serviços de vigilância. Ações de fortalecimento da detecção destes eventos devem ser fortalecidas nacionalmente e acompanhadas de medidas de intervenção para prevenir e proteger a saúde destes trabalhadores.