Programa - Comunicação Coordenada - CC2.8 - Desafios e inovações no monitoramento da Saúde Mental no Brasil
26 DE NOVEMBRO | TERÇA-FEIRA
09:40 - 11:00
DESIGUALDADE RACIAL NA PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO: SINTOMAS VS. DIAGNÓSTICO MÉDICO NO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Caldeira, T.C.M.1, Damião, J.J.2, Silva, L.E.S.3, Claro, R.M.1, Sousa, T.M.2
1 UFMG
2 UERJ
3 UFPEL
Objetivo: Investigar a desigualdade racial na prevalência de depressão rastreada por sintomas versus diagnóstico médico autorreferido (DMA) no Brasil.
Métodos: Estudo transversal com adultos entrevistados pela Pesquisa Nacional de Saúde 2019 que autodeclararam raça/cor preta ou parda (negros) e branca (n=87.187). Investigou-se a depressão por sintomas (Patient Health Questionnaire-9; escore ≥10) e por DMA. Diferenças absolutas entre as prevalências estimadas pelos dois indicadores foram calculadas em pontos percentuais (pp) e consideradas significativas pela comparação dos intervalos de confiança de 95%. Modelos de regressão logística estimaram o Odds Rato ajustado (ORa) por sexo, idade, escolaridade, renda per capita e presença de companheiro para a associação entre depressão e raça/cor da pele.
Resultados: Pessoas negras apresentaram maior prevalência de depressão rastreada por sintomas comparada ao DMA (11,0% vs. 8,6%; 2,5pp), com maiores diferenças entre aqueles com 18-24 anos (6,0pp), renda per capita >1 salário-mínimo (3,9pp), sem companheiro (3,6pp) e escolaridade entre 0-8 anos (3,0pp). Cenário oposto foi observado entre brancos, com maior prevalência de DMA comparado ao rastreio por sintomas (12,5% vs. 10,6%; -1,9pp), e maiores diferenças entre aqueles com renda per capita >5 salários-mínimos (-7,5pp) e escolaridade ≥12 anos (-4,5pp). Pessoas negras tiveram menor chance de DMA de depressão (ORa: 0,70; p<0,001) do que pessoas brancas, sem associação para depressão rastreada por sintomas.
Conclusão: Apesar da maior prevalência de depressão rastreada por sintomas, as pessoas negras referiram ter recebido diagnóstico médico com menor frequência. Houve uma chance 30% menor de DMA para depressão entre negros, independente das características sociodemográficas.
INSEGURANÇA ALIMENTAR E QUALIDADE DO SONO: PAPEL MEDIADOR DA SAÚDE MENTAL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
SABBAGH, M. I. R1, MENEZES JÚNIOR, L. A. A.1, MACHADO-COELHO, G. L. L.1, MEIRELES, A.L.1
1 UFOP
Objetivo: Investigar a associação da insegurança alimentar (IA) com a qualidade do sono e avaliar o papel da saúde mental como mediador desta associação. Métodos: Estudo transversal (outubro-dezembro/2020) em dois municípios de MG. A qualidade do sono foi avaliada pelo PSQI, a IA pela EBIA, e os sintomas de ansiedade e depressão pelas escalas GAD-7 e PHQ-9. Para verificar a associação da IA com qualidade do sono, foi realizada regressão logística e análise de mediação pelo método Karlson Holm Breen, ambas ajustadas por idade, sexo, renda e escolaridade. Resultados: Foram avaliados 1.764 indivíduos, sendo 52,1% do sexo feminino, com média de idade de 43,8 anos (IC95%:42,5-45,2), 39,7% tinham 9 a 11 anos de escolaridade e 41,1% renda abaixo de 2 salários mínimos. Dos indivíduos avaliados, 37,5% estavam em IA, 52,5% tinham má qualidade do sono, 23,7% apresentavam sintomas de ansiedade e 15,9% sintomas de depressão. Na análise multivariada, indivíduos em IA tinham 61% mais chances de ter má qualidade do sono (OR:1,61;IC95%:1,04-2,51). Além disso, 6.65% e 54.5% do efeito total foram mediados pelos sintomas de ansiedade e depressão, respectivamente. Conclusão: Indivíduos com IA apresentam maior chance de ter qualidade do sono ruim, e parte deste efeito é mediado pelos sintomas de ansiedade e depressão. Esses achados sugerem que intervenções direcionadas à redução da IA e ao manejo da saúde mental podem melhorar a qualidade do sono em populações vulneráveis.
TRANSTORNO MENTAL COMUM EM MORADORES DE COMUNIDADE VULNERABILIZADA, SALVADOR/BA, 2023/24
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Prestes, J. F. C.1, Santos, D. S.1, Rodrigues, J. M.1, Dias, W. P.1, Nunes, T. S.1, Silva, J. S.1, Santos, M. S.1, Souza, F. N.1, Palma, F. A. G.1, Santana, J. O.1, Oliveira, D.1, Costa, F.1, Cremonese, C.1
1 UFBA
Objetivos: Medir a prevalência de Transtorno Mental Comum (TMC) e determinantes associados entre moradoras(es) de uma comunidade urbana vulnerabilizada (CUV) de Salvador/BA, 2023/24
Métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, com dados primários, em uma CUV de Salvador/BA, entre 2023/2024. Participaram 178 moradoras(es) com idade ≥17 e ≤70 anos. Aplicaram-se questionários estruturados, com apoio de celulares e plataforma REDCap. O desfecho foi medido pelo Self-Repporting Questionnaire 20 e variáveis sociodemográficas, ambientais e de saúde foram coletadas. Construiu-se modelo multivariado, aplicou-se regressão de Poisson e cálculos de RP e IC95% para identificação de potenciais determinantes associados. Análises foram realizadas no RStudio. O projeto foi aprovado no CEP/ISC (CAAE: 75382123.0.0000.5030).
Resultados: A prevalência geral de TMC foi de 37%, revelando-se maior entre as mulheres (42,9%), faixa etária de 17-29 (47%), desempregadas(os) (45,6%), que não confiam na vizinhança (43,2%), percebem a saúde enquanto regular/ruim (46,2%), são principais cuidadoras(es) de crianças (53,8%), e foram expostas(os) nos últimos 6 meses a água de esgoto (61,3%). Na análise ajustada foi identificada uma probabilidade 2,5 vezes maior de TMC entre pessoas de 17-29 anos (RP: 2,52; IC95% 1,13-5,98) e 81% maior entre pessoas que foram expostas ao esgoto (RP: 1,81; IC95% 1,01-3,11).
Conclusões: Alta prevalência de TMC entre moradoras(es) de uma CUV de Salvador/BA. Aquelas(es) com idade ≤29 anos e que foram expostas água de esgoto apresentaram maior probabilidade de TMC. Há necessidade urgente de ampliação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) em CUV, visto grande vulnerabilidade ambiental e socioeconômica nesses espaços repercute na saúde mental.
SAÚDE PÚBLICA DIGITAL: CIÊNCIA DE DADOS PARA O MONITORAMENTO DA SAÙDE MENTAL NO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
De Boni, RB1, Salles, R1, Carvalho, CC1, Dantas, R1, Montezano, BB2, Kapczinski, F2, Passos, I2, Fiel, B3, Alves, A1, Miloski, M1, Souto, G1, Cardoso, C1, Bonifacio, C1, Lima, J4, Pedroso, M1
1 Fiocruz
2 UFRGS
3 NA
4 FIocruz
Objetivo: Criar um sistema de indicadores para monitoramento de transtornos de saúde mental (TSM) no Brasil e disponibilizá-lo para gestores, pesquisadores e sociedade.
Método: Foram realizadas revisão da literatura e reuniões com experts para definição e seleção de indicadores de monitoramento de TSM. Dados do SIM, SIHSUS, IBGE, CNES e CadUnico foram estruturados utilizando uma adaptação da abordagem CRISP- DM para Ciência de Dados para cálculo dos indicadores (brutos e ajustados) para a população geral e desagregados em cinco categorias. Foi desenvolvido um site que inclui dashboards interativos para visualização dos resultados e análises exploratórias.
Resultados: De um total de 182 indicadores encontrados na revisão, os dados públicos brasileiros permitem o cálculo de 40. Destes, 18 foram considerados prioritários e são disponibilizados em 4 grupos: mortalidade, internações, serviços de saúde e determinantes sociais. Foram desenvolvidos 12 dashboards interativos para visualização e análise dos indicadores (disponíveis em https://homologacao-saudemental.icict.fiocruz.br/). A análise visual exploratória das taxas de mortalidade por suicídio, por exemplo, mostra uma tendência crescente a partir de 2014, sendo esta mais pronunciada entre homens e jovens, e na região Sul do país.
Conclusões: Este sistema vem fortalecer a Saúde Pública Digital e auxiliar no monitoramento dos TSM no país. A inviabilidade do cálculo de indicadores, bem como a análise exploratória dos indicadores avaliados, indica a necessidade premente de preencher a lacuna de informação relacionada a TSM no Brasil, especialmente relacionada a prevalência das TSM e efetividade dos serviços.
FATORES ASSOCIADOS À IDEAÇÃO SUICIDA: UMA MODELAGEM MULTIVARIADA ORDENADA EM BLOCOS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Palma, T. F.1, Teixeira, J. R. B.1, Pinho, P. S.1, Morais, A. C.1, Pinheiro, E. S.1, Lua, I.1, Helioterio, M. C.1, Araújo, T. M.1
1 UEFS
OBJETIVO: Analisar a ocorrência da ideação suicida-IS em uma população urbana e seus fatores de exposição. MÉTODO: Estudo transversal, com amostra probabilística (por conglomerado) de 4.170 indivíduos de 15 anos ou mais de idade, residentes em zona urbana de município baiano. Utilizou-se questionário estruturado, contendo informações sociodemográficas, de saúde, hábitos de vida, violência e dimensões da insatisfação. A IS foi investigada pelo item 17 do Self-Reporting Questionnaire. Processou-se modelagem multivariada ordenada intra e inter-blocos, utilizando-se a regressão logística. Foram realizadas ponderações para amostras complexas. RESULTADOS: Estimou-se prevalência de IS de 6,8%. De forma ordenada, os fatores de exposição à IS foram: sexo feminino (OR:2,63 IC95%:1,27-5,45), menor escolaridade (OR:3,57 IC95%:1,23-10,36) (distal); vivência de violência emocional/física (OR:1,98 IC95%:1,02-3,82), percepção negativa de saúde (OR:2,76 IC95%:1,53-4,99), insatisfação com a qualidade de vida (OR:2,67 IC95%:1,49-4,80), insatisfação consigo mesmo (OR:1,89; IC95%: 1,03-3,48 (intermediário); e, distúrbio do sono (OR:1,87 IC95%:1,03-3,40), transtorno de ansiedade generalizada (OR:3,91 IC95%:1,25-12,22), depressão (OR:2,39 IC95%:1,03-5,56) (proximal). CONCLUSÕES: Vulnerabilidades sociais e de gênero, domínios da insatisfação e adoecimento mental precisam ser priorizados no planejamento de ações de prevenção e tratamento da IS, com prioridade para ações que protejam as pessoas do adoecimento, da forma mais precoce possível e, que promovam a saúde e bem-estar gerais das coletividades.