Programa - Comunicação Coordenada - CC2.14 - População de rua
26 DE NOVEMBRO | TERÇA-FEIRA
17:00 - 18:20
FATORES ASSOCIADOS À VIOLÊNCIA VIVIDA POR PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA EM BELO HORIZONTE
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Gontijo, T. G.1, Soares, G. M.1, Spelta, L. S.1, Oliveira, B. V.1, Aguiar, Y. O.1, Arcêncio, R. A.2, Malta, D. C.1, Freitas, G. L.1
1 UFMG
2 USP
Introdução: A violência representa um importante problema de saúde pública, reconhecido pela OMS, com repercussões para a saúde de indivíduos e comunidades. Há uma relação íntima entre desigualdade e violência, que expõe públicos em situação de vulnerabilidade, como a população em situação de rua. Objetivo: Identificar os tipos de violência sofrida por pessoas em situação de rua e analisar seus fatores associados. Métodos: Estudo transversal, analítico, de abordagem quantitativa. Coletaram-se os dados de uma amostra de 356 pessoas em situação de rua, em Belo Horizonte/MG, entre agosto de 2021 e março de 2022. Para análise, realizou-se regressão de Poisson com variância robusta. Resultados: A violência foi relatada por (59,60%) da amostra, sendo mais prevalente entre mulheres, pessoas não brancas, com idade entre 18 e 39 anos, que tinham parceiro(a), sem renda e que frequentavam albergues e abrigos. As variáveis possuir companheiro e não possuir renda, apresentaram associação significativa com aumento na prevalência de violência estrutural e geral, respectivamente, enquanto ser do sexo masculino contribuiu para a diminuição da violência estrutural. A utilização de serviços de acolhimento foi associada ao aumento de todos os tipos de violência. Conclusões: Reconhece-se a vulnerabilidade à violência enfrentada por esse grupo, juntamente com os desafios dos serviços de acolhimento, como abrigos e albergues, em lidar com esses problemas. O estudo proporciona uma compreensão de como a violência se manifesta na vida diária das pessoas em situação de rua, permitindo uma análise das políticas públicas existentes e a formulação de alternativas mais eficazes.
PESSOAS TRANS/TRAVESTIS EM SITUAÇÃO DE RUA: ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE/SOCIOASSISTENCIAIS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Nunes, T. S.1, Dias, W. P.1, Nascimento, I. M. R.1, Abade, E. A. F.1, Marinho, M. L.1, Dultra, L. S.1, Ribeiro, G. S.1, Nery, J. S.1
1 UFBA
Objetivo: Descrever o acesso aos serviços socioassistenciais e de saúde entre pessoas em situação de rua (PSR) trans e travestis em Salvador/BA, 2021/2022. Métodos: Realizou-se um estudo transversal, com aplicação de questionários estruturados, entre setembro/2021 e fevereiro/2022. A amostra foi composta por 529 PSR presentes em logradouros públicos ou unidades de acolhimento institucional do município. A variável “gênero” foi coletada por autoidentificação, sendo incluídas as 24 pessoas que responderam “homem/mulher trans”, “travesti” ou “pessoa não binária” quando perguntadas “Qual sua identidade de gênero?”. Análises descritivas realizadas no software R (versão 4.3.3). Pesquisa aprovada pelo CEP do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz – CAAE: 42517021.0.0000.0040. Resultados: Da população estudada, 58% relatou já ter sido abrigada em Unidades de Acolhimento Institucionais; 54% afirmou ter visitado, no ano anterior à pesquisa, o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua e 41% o Centro de Referência da Assistência Social. Embora 62% das PSR trans e travestis estudadas tenham registro no CadÚnico, 62,5% não recebem Bolsa Família. O tipo de unidade de saúde mais utilizada é a Unidade de Pronto-Atendimento (79%). Dificuldades de acesso aos serviços foram relatados por 52% das pessoas, sendo motivadas por: ausência de documento de identificação (21%), ausência de cartão do SUS (20%), demora no atendimento (25%) ou discriminação social/racial (16%, 4%). Conclusão: Existem barreiras para o acesso de pessoas trans e travestis em situação de rua ao atendimento ou benefício socioassistencial. Na saúde, percebe-se que a busca por cuidados ocorre apenas em situações agudizadas ou com risco iminente de morte.
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM SITUAÇÃO DE RUA: UM ESTUDO DESCRITIVO EM SALVADOR (BAHIA)
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Castelo, I. S.1, Nery, J. S.1, Dias, W. P1, Marinho, M. L.1, Ribeiro, G. S.1, Dultra, L. S.1, Conceição, L. C. R1, Oliveira, S.2, Araújo, E. T.1
1 UFBA
2 Movimento Nacional de População de Rua (MNPR)
Objetivo: Analisar a ocorrência de deficiências entre pessoas em situação de rua (PSR) na cidade de Salvador/BA em um período entre 2021 e 2022. Métodos: Estudo transversal descritivo, baseado em um inquérito epidemiológico com dados da PSR de quatro distritos sanitários do município de Salvador. Foram consideradas variáveis sociodemográficas, de caracterização das deficiências e de acesso aos serviços socioassistenciais, sendo o tratamento dos dados feito no software R. Resultados: Das 523 PSR entrevistadas, aproximadamente 21,0% possuíam algum tipo de deficiência, com prevalência dos tipos físico (63,6%), visual (19,1%) e intelectual/mental (14,5%), sendo, a maioria dos tipos de deficiência, de causa adquirida. Houve maior ocorrência entre homens cis (78,2%), da raça negra (95,4%), de faixa etária de 30 a 49 anos (52,8%), com escolaridade a nível do ensino fundamental (65,1%) e renda até ¼ do salário mínimo (48,2%), estando a maioria não contemplada por benefícios socioassistenciais, como Bolsa Família (60,9%) e BPC (90,9%). Outrossim, 55,5% tinham acesso às Unidades de Acolhimento e 48,2% tinham difícil acesso aos serviços de saúde. Conclusões: Os resultados mostraram uma maior prevalência da deficiência entre pessoas em situação de rua de Salvador em comparação com a média nacional (15%). Há possível sobreposição de marcadores de opressão como raça e gênero, apontando a necessidade de desenvolvimento de metodologias analíticas mais aprofundadas sobre tal população, que visem ao estudo da associação entre as dimensões multifatoriais da deficiência e da situação de rua.
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS AO HIV NA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DE SALVADOR
Comunicação coordenada (apresentação oral)
DULTRA, LS1, NERY, JS1, RIBEIRO, GS2, MARINHO, ML1, DIAS, WP1, FEIJO, FR1, SILVA, TO1, OLIVEIRA, MS3
1 UFBA
2 UFBA; Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz
3 Movimento Nacional de População de Rua
Objetivos: Descrever a prevalência da infecção por HIV na população em situação de rua(PSR) de Salvador/Bahia e verificar diferenças segundo características sociodemográficas/comportamentais/ocupacionais.
Métodos: Inquérito epidemiológico realizado com PSR do município de Salvador/Bahia(setembro/21-fevereiro/22), com amostra de 529 indivíduos de quatro distritos sanitários. Coleta realizada nas ruas e Unidades de Acolhimento por profissionais de saúde e equipe treinada. Foram consideradas variáveis sociodemográficas, benefícios socioassistenciais e uso de substâncias psicoativas. A amostra sanguínea foi obtida por punção digital e armazenada em papel filtro, tendo como método diagnóstico o imunoensaio de micropartículas por quimioluminescência (CMIA).
Resultados: 522(98,7%) das 529 pessoas entrevistadas realizaram testagem. A prevalência de infecção por HIV foi 7,5%(n=39), e 1,5%(n=8) teve resultado inconclusivo.
A prevalência foi 2,1 vezes maior na população preta em comparação à branca (8,5%vs4,0%). Estar há mais que 5 anos nas ruas (9,6%), identificar-se como mulher trans/travesti (38,9%), possuir orientação sexual gay (38,5%) e fumar diariamente (10,5%) estiveram associados à maior prevalência por HIV.
Conclusões: A prevalência de HIV foi 10 vezes maior na PSR do que na população geral(0,7% no Brasil), com diferenças marcantes segundo gênero e raça/cor. Estratégias de melhoria no acesso a serviços de saúde à PSR é urgente, a exemplo da territorialização do tratamento, bem como políticas de combate à transfobia e racismo institucionais.
EPIDEMIOLOGIA DA VIOLÊNCIA CONTRA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Gontijo, T. G.1, Soares, G. M.1, Oliveira, B. V.1, Bernal, R. T.1, Vasconcelos, N. M.1, Freitas, G. L.1, Malta, D. C.1
1 UFMG
Introdução: Nos últimos anos, o aumento do número de pessoas em situação de rua evidenciou as desigualdades sociais no país, imprimindo problemas sociais e de saúde que demandam atenção. O cotidiano dessas pessoas é marcado por inúmeras manifestações de violência. Objetivo: Descrever as notificações de violência contra pessoas em situação de rua captadas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Métodos: Estudo epidemiológico, descritivo, com abordagem quantitativa. Foram consideradas todas as notificações de violência contra pessoas em situação de rua do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, entre 2015 e 2022. Foram realizadas análises estatísticas descritivas para estudar a distribuição dos casos segundo as variáveis sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, situação conjugal, tipo de violência, local de ocorrência, recorrência e relação do autor com a vítima. Resultados: Das 42.691 notificações de violência, 54% ocorreram na região Sudeste e 53% eram referentes ao sexo masculino. Em ambos os sexos, a violência foi perpetrada principalmente contra indivíduos não brancos, no grupo de 20 a 59 anos. A violência física foi a mais frequente, seguida pela violência psicológica/moral. Os incidentes ocorreram majoritariamente em vias públicas e foram praticados por homens, desconhecidos, com suspeita de ingestão de bebida alcoólica. Conclusões: A identificação das violências perpetradas contra pessoas em situação de rua no Brasil, através das notificações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, possibilita o reconhecimento das características das vítimas e dos agressores, subsidiando ações para o seu enfrentamento. Isso permite traçar intervenções mais efetivas na prevenção e combate à violência.