Programa - Comunicação Coordenada - CC2.25 - Epidemiologia de Suicídio e Lesões Auto-provocadas: perspectivas e desafios
26 DE NOVEMBRO | TERÇA-FEIRA
17:00 - 18:20
VIOLÊNCIA AUTOPROVOCADA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO RECIFE-PE
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Silva, LV.C1, Silva, G.B1, Araújo, A.L1, Lopes, Y.S1, Leite, R.V1, Aquino, A. M.O1, Barros, N.G.M1
1 SECRETARIA EXECUTIVA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
As lesões autoprovocadas apesar de raras na infância, são altamente consideráveis em razão de sua magnitude. Embora existam sub registros desses eventos, sua ocorrência vem apresentando aumento nas últimas décadas, especialmente na população de adolescentes. A transição da infância para adolescência representa um período crítico para a vulnerabilidade do comportamento autoprovocado, sendo um preditor para o suicídio. O objetivo deste estudo é analisar as notificações por lesões autoprovocadas entre crianças de 5 a 9 anos e adolescentes de 10 a 19 anos no Recife-PE, visando conhecer sua magnitude e distribuição entre 2019 a 2023, a partir dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Foram identificados 1.210 registros de crianças e adolescentes (CA) recifenses vítimas desse agravo, 0,7% em crianças de 5 a 9 anos, 33,4% em adolescentes de 10 a 14 anos e 65,9% em adolescentes de 15 a 19 anos. A incidência maior foi nas meninas, com 80,7% dos casos, e destas 2,7% estavam grávidas. A raça-cor negra foi a mais acometida, com 72,2%, fato este notável não apenas pela forte miscigenação que ocorre na região, mas também pela inegável relação histórica da violência e do racismo. Dentre os casos registrados, foram observadas 43,3% reincidências. Ademais, CA que possuíam transtorno/deficiência foram aferidas em 19,5%. A residência foi o local de ocorrência mais notificado, com 78,1%, e os meios de agressões mais utilizados foram o envenenamento 65,8% e o objeto pérfuro-cortante 21,8%. Assim, os dados demonstram a necessidade da oferta de assistência psicoterapêutica voltada para essa população.
FATORES ASSOCIADOS À IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE UNIVERSITÁRIOS DO SEXO MASCULINO BRASILEIROS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Souza e Souza, L.P.1, Souza, A.G. de.1
1 UFAM
Objetivo: Analisar fatores sociodemográficos, escolares, ocupacionais, comportamentais e de cobertura de saúde e estimar associação destas variáveis com a variável “ideação suicida” entre universitários brasileiros do sexo masculino. Metodologia: Inquérito transversal, que investigou diversos comportamentos com uma amostra aleatória e representativa de 375 estudantes (de todas as áreas do conhecimento) de uma Instituição de Ensino Superior Brasileira. Os dados foram coletados em 2019, utilizando questionário validado. Neste estudo, optou-se por aprofundar nas análises da ideação suicida (“Durante os últimos 12 meses, você já considerou seriamente uma tentativa de suicídio?”). Razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) foram ajustados pela técnica de regressão multivariada de Poisson. Resultados: A prevalência da ideação suicida foi de 17,9%. Estar nas faixas etárias de 34 a 41 anos (RP=0,82; IC95%=0,77-0,88) e de 42 anos ou mais (RP=0,84; IC95%=0,79-0,90), não ter religião (RP=1,09; IC95%=1,02-1,17), ter cobertura de saúde, incluindo seguro ou plano pré-pago (RP=0,92; IC95%=0,86-0,98), e ter feito uso de pílulas ou injeção de esteroides sem prescrição médica durante a vida 10 a 39 vezes (RP=1,67; IC95%=1,60-1,73) e 40 vezes ou mais (RP=1,31; IC95%=1,12-1,25) permaneceram independentemente associados à ideação suicida após ajuste multivariado dos dados. Conclusão: Torna-se essencial compreender o grupo homens universitários como uma população em processo de transição comportamental e mais suscetível à adoção de comportamentos de risco à saúde física e mental. Assim, esforços dos gestores das Universidades (reitores, coordenadores, centros acadêmicos, docentes e discentes) devem ser potencializados, no sentido de oferecer apoio e suporte social.
PADRÕES E PERFIS DE SUICÍDIOS E TENTATIVAS DE SUICÍDIO NO BRASIL, 2000 A 2021
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Linhares, L.M.S1, Alves, D.S.B.2, Melo, E.C.P3
1 Secretaria Municipal de Saúde Pública de Campo Grande/MS
2 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
3 Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
Objetivos: Analisar o perfil de suicídios e tentativas de suicídio no Brasil.
Métodos: Estudo de corte seccional a partir de dados oriundos do Sistema de Informação sobre Mortalidade e de Agravos de Notificação, 2000 a 2021. Aplicadas técnicas de análise de correspondência múltipla (ACM) e de análise de agrupamento.
Resultados: Aumento progressivo de suicídios em todas as regiões, com variação de 128,6%. A ACM mostrou características relacionadas ao suicídio e às tentativas nas duas primeiras dimensões, explicando 19,1% e 20,2% da variabilidade total dos dados, respectivamente. Há ampla variação dos perfis de suicídios e das tentativas no país, marcados por diferenças regionais e sociodemográficas relevantes. Os distintos perfis de vulnerabilidade permitiram identificar três grupos com padrões distintos, tanto para os suicídios como para tentativas. No suicídio, o sexo masculino e a residência como local para a concretização do evento se destacam. Tentativas de suicídio se caracterizam por perfil predominantemente feminino; uso de meios menos letais e mais jovens. Os suicídios foram mais frequentes nos idosos e as tentativas de suicídio entre adolescentes. O aumento de suicídios entre adolescentes é preocupante, dado tendências de crescimento significativo nos últimos anos.
Conclusões: Há ampla variação de perfis de suicídios e tentativas de suicídio no país. Diferenças regionais e sociodemográficas se mostraram significativas nas análises multivariadas e revelam distintos perfis de vulnerabilidade a princípio bastante correlacionados.
CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIA DO SUICÍDIO POR AUTOINTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA NO BRASIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Jesus, F.O.1, Souza, M.L.P.2, Horta, B.L.3, Orellana, J.D.Y.1
1 ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA
2 FIOCRUZ CEARÁ
3 UFPEL
Objetivos: Avaliar as características sociodemográficas relacionadas ao suicídio por autointoxicação intencional por medicamentos (AIP) e a tendência da taxa de mortalidade específica para esse método no Brasil. Método: Estudo ecológico de série temporal com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Foram incluídos indivíduos com 10 anos ou mais e que cometeram suicídio por AIP (códigos X60; X61; X63; X64 da CID-10), no período de 2003 a 2022. Os dados da população residente são estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com retroprojeção para 2003 a 2010 e projeção para o período de 2011 a 2022. As taxas anuais foram estimadas dividindo-se a frequência de suicídios pela população estimada, multiplicando-se por 1.000.000/habitantes. Uma regressão não paramétrica ponderada localmente (Loess) foi usada para avaliar a tendência. Foi adotado nível de 95% de confiança. As análises foram realizadas no ambiente R e RStudio. Resultados: Entre 2003 e 2022, houve predomínio de óbitos em mulheres (55,5%), indivíduos de 30 a 49 anos (47,2%), de raça/cor branca (53,2%), ocorridos em unidades de saúde (67,0%), uso de drogas ou substâncias não especificadas (40,4%); maior concentração na região Sul (22,8%) e tendência positiva nas taxas de mortalidade devido a AIP, sobretudo a partir de 2016. Observou-se o expressivo aumento de 264%, comparando as taxas de 2022 e 2003. Conclusões: Observou-se um perfil sociodemográfico peculiar nas vítimas de autointoxicação intencional por medicamentos e tendência temporal positiva nas taxas de mortalidade, especialmente em período marcado por crises regionais e globais, como a pandemia de Covid-19.
NOTIFICAÇÕES DE LESÕES AUTOPROVOCADAS ENVOLVENDO MULHERES RURAIS NO BRASIL, 2011 A 2020
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Stochero, L.1, Pacheco, D. L2, Wernersbach Pinto, L.1
1 FIOCRUZ
2 UERJ
Objetivo: descrever o perfil das notificações de lesões autoprovocadas envolvendo mulheres rurais no Brasil, entre 2011 e 2020.
Método: trata-se de um estudo descritivo, a partir dos dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Foram eleitos os casos de lesões autoprovocadas de mulheres com idade a partir de 18 anos, moradoras da zona rural, no período de 2011 a 2020 de todo o Brasil. Foi realizada uma análise descritiva, a partir de frequências absolutas e relativas, das características sociodemográfica da população de estudo e das características dos eventos de violência.
Resultados: no período de 2011 a 2020 foram realizadas 18.430 notificações de lesão autoprovocada de mulheres rurais brasileiras. A maioria das mulheres tinha entre 18-29 (42,4%) e 30-39 (27,5%) anos de idade, eram principalmente pretas/pardas (46,6%) ou brancas (43,2%), casadas (48,7%) ou solteiras (28,8%), sem instrução/ensino fundamental incompleto (35,7%). Quanto as características da autolesão, a maioria ocorreu na residência (89,9%), 37,9% eram casos recorrentes e os meios mais utilizados foram envenenamento/intoxicação (95,5%), enforcamento (26,5%), objeto perfurocortante (20,2%). As notificações conforme as regiões foram: 35,9% no Sudeste, 29,4% no Nordeste, 26,1% no Sul, 5,2% no Norte e 3,3% no Centro-oeste.
Conclusões: O estudo aponta para um perfil de mulheres rurais mais jovens, casadas, com menos instrução e a utilização de envenenamento/intoxicação como meio de autolesão. Percebe-se a necessidade de ações voltadas às mulheres que vivem em zonas rurais e que estão mais afastadas dos locais de ajuda, apoio e possibilidade de intervenção.