Programa - Comunicação Coordenada - CC3.9 - Alimentação e Interseccionalidade
27 DE NOVEMBRO | QUARTA-FEIRA
09:40 - 11:00
INSEGURANÇA ALIMENTAR EM BELO HORIZONTE: UMA ABORDAGEM INTERSECCIONAL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Ferreira, K.1, Dayrell, A.1, Moreira Silva, U.1, Friche, A.1, Caiaffa, W.1, Borde, E.1
1 UFMG
Existem diversos estudos que abordam desigualdades sociais na Insegurança Alimentar (IA). Entretanto, predominam estudos que abordam a IA através de uma perspectiva unitária e unidimensional, focados nos fatores de risco individuais ou na combinação simples de múltiplos fatores. A ausência de uma perspectiva interseccional na análise e no enfrentamento da IA pode levar a uma negligência das relações entre diferentes domínios de poder e do contexto social, bem como da complexidade que análises interseccionais desvelam. Objetivo: Analisar os padrões e a prevalência da IA sob uma perspectiva da interseccionalidade. Métodos: Foram utilizados dados do projeto BH-Viva no qual foram realizados inquéritos domiciliares (2017-2018) em duas favelas do município de Belo Horizonte, e de bairros vizinhos a essas áreas (n=1194). A variável de desfecho foi a IA e as exposições foram obtidas a partir do cruzamento das variáveis gênero, raça/cor e Índice de Vulnerabilidade Socioeconômica sensível à Insegurança Alimentar (IVSIA) (criado por meio de 3 domínios - trabalho e renda, escolaridade e condições de domicílio). As associações entre a IA e as categorias de interseccionalidade foram estimadas através de modelos de regressão logística com interações multiplicativas. Mulheres negras em condições socioeconômicas desfavoráveis apresentaram mais chance de IA que homens brancos em condições socioeconômicas favoráveis (categoria de interseccionalidade com associação mais forte - OR=7,50, IC95%=3,20-17,58). Conclusão: Evidencia a importância que tem uma abordagem interseccional para identificar os padrões e as principais vítimas da IA de uma forma mais complexa, permitindo compreender como os eixos de opressão e privilégio se articulam para moldá-la.
DESIGUALDADES RACIAL E DE GÊNERO E CONSUMO ALIMENTAR DE ADOLESCENTES ESCOLARES BRASILEIROS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Rosa, T. M. S.1, Canella, D. S.1
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro /UERJ
Objetivo: Investigar a relação entre o consumo alimentar de escolares e as intersecções de raça/cor da pele e gênero a partir de dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019.
Métodos: Foram construídos 6 perfis sociais combinando gênero e raça/cor da pele. O consumo alimentar foi investigado a partir do consumo de feijão, frutas e hortaliças e de guloseimas e refrigerantes, considerando três categorias: consumo regular, consumo moderado e não ou pouco consumido. Diferenças entre os perfis foram consideradas significativas com base na ausência de sobreposição entre os intervalos de confiança (IC) de 95%.
Resultados: Foi identificado que o consumo regular foi mais prevalente entre: homem preto (68,4% IC: 66,2 - 70,6) e pardo (66,5%, IC: 65,1 - 67,9), para feijão; homem branco (29,6%, IC: 28,5 - 30,8), para frutas; e entre homem branco (32,9%, IC: 31,8 - 34,1), mulher branca (32,3% IC: 30,9 - 33,7) e homem pardo (29,8%, IC: 28,7 - 30,9), para hortaliças. A mulher preta apresentou a menor prevalência de consumo regular de frutas (25,1% IC: 23,4 - 27,0) e de hortaliças (23,5% IC: 21,6 - 25,4). Nos ultraprocessados, as maiores prevalências de consumo regular de guloseimas foram entre mulher branca (39,4% IC:37,9 - 40,9), preta (38,1%, IC: 35,6 - 40,7) e parda (36,1%, IC: 35,0 - 37,3), para o refrigerante não houve diferença significativa entre os perfis.
Conclusão: Há desigualdades raciais e de gênero no consumo alimentar entre os perfis, principalmente, entre mulher preta e homem branco.
FREQUÊNCIA DE CONSUMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS SEGUNDO RAÇA/COR DE ADULTOS BRASILEIROS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Vasconcelos, T.M.1, Bezerra, I.N.1
1 UECE
Objetivo: Descrever a frequência de consumo de frutas e hortaliças de adultos brasileiros segundo raça/cor.
Métodos: Estudo transversal, com 29.353 adultos do módulo de consumo alimentar da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. O consumo foi obtido por meio do recordatório de 24 horas. A frequência de consumo de frutas e hortaliças (FH) foi analisada de acordo com a raça/cor, sexo e renda familiar per capita, calculada com base no salário-mínimo vigente em 2017–2018 (R$ 954,00) e categorizada em quartis. As diferenças significativas foram examinadas pela não sobreposição dos IC95%.
Resultados: Adultos pretos/pardos, quando comparados aos brancos, apresentaram as menores frequências de consumo de frutas (26,2%; IC95%: 25,1-27,3 vs. 31,9%; IC95%: 30,4-33,5%) e hortaliças (29,3%; IC95%: 28,0-30,6% vs. 39,5; IC95%: 37,7-41,2). O consumo de FH nas mulheres pretas/pardas foi, respectivamente, 6,3 e 10,5 pontos percentuais (pp) menor quando comparadas a mulheres brancas. Entre os homens pretos/pardos, observou-se diferenças somente quanto ao consumo de hortaliças, sendo 11,3 pp menor que os valores observados entre brancos. A frequência de consumo de frutas e hortaliças aumenta conforme aumenta a renda, independente da raça/cor. No entanto, entre os indivíduos pretos/pardos do maior quartil de renda, o consumo de FH foi, respectivamente, 7,5 pp e 11,3 pp menor que o de indivíduos brancos pertencentes ao maior quartil de renda.
Conclusão: Pretos/pardos apresentam menores frequências de consumo de frutas e hortaliças, independente do sexo. Os achados reforçam que as diferenças raciais e socioeconômicas devem ser consideradas na investigação sobre consumo alimentar da população.
ASSOCIATION BETWEEN FOOD INSECURITY AND LONG COVID IN ADULTS FROM SOUTHERN BRAZIL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
SCHRÖEDER, N.1, FETER, N.1, CAPUTO, E. L.2, DELPINO, F. M.3, SILVA, L. S.3, ROCHA, J. Q. S.4, PAZ, I. A.1, SILVA, C. N.4, CUNHA L. L.3, VIEIRA, Y. P.4, REICHERT, F. F.3, SILVA, M. C.3, ROMBALDI, A. J.3
1 UFRGS
2 Brown University
3 UFPel
4 FURG
Objective: The objective was to analyze the association between food insecurity and long COVID in adults.
Methods: Cross-sectional study nested within the Prospective study About Mental and Physical Health in Adults (PAMPA) Cohort. Participants completed an online questionnaire in June 2022. We assessed food insecurity using the Brazilian Scale of Food Insecurity. Long COVID was defined as any post-COVID-19 symptoms that persisted for at least three months after infection. Robust Poisson regression models were used to verify the association between food insecurity and long COVID.
Results: Among 956 participants (74.0% female, median age 36 [IQR 29-45.7]), 29.4% experienced food insecurity (22.7% mild, 3.6% moderate, 3.1% severe), and 77.8% had long COVID. Food insecurity was linked to female gender, black or mixed-race ethnicity, lower income, lower education, and chronic diseases. Symptoms included neurological (56.2% fatigue, 41.7% headache, 41.1% memory problems, 29.9% depression, 29.7% loss of smell and taste, 28.6% difficulty concentrating, 25.7% other pain or discomfort), pulmonary (39.2% cough, 21.7% shortness of breath, 13.7% chest pain), and gastrointestinal (28.5% sore throat, 13.9% nausea /diarrhea) issues. Food insecurity increased the likelihood of long COVID (PR: 1.15, 95% CI 1.08-1.22) and was associated with higher probabilities of neurological (PR: 1.19, 95% CI 1.10-1.28), pulmonary (PR: 1.33, 95% CI 1.17-1.52), and gastrointestinal (PR: 1.57, 95% CI 1.31-1.88) symptoms.
Conclusions: Food insecurity was associated with long COVID, as well as neurological, pulmonary, and gastrointestinal symptoms that persisted for at least three months post-infection. Further studies are needed to confirm the findings of this research.
CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS NO BRASIL: ASSOCIAÇÃO COM SEXO, RAÇA/COR E RENDA
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Baltar, V. T.1, Hassan, B. K.2, Canella, D. S.3
1 UFF
2 ACT
3 UERJ
Objetivos: Avaliar a relação entre a participação energética de alimentos ultraprocessados (AUP) na alimentação e sexo, raça/cor e renda familiar per capita na população brasileira.
Métodos: 46.164 participantes do Inquérito Nacional de Alimentação da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017/2018 com informações sobre o consumo alimentar de dois recordatórios de 24 horas (R24h). Os itens foram agrupados de acordo com a classificação de AUP da NOVA. Estimou-se a média de dois R24h do consumo calórico proveniente de AUP e do consumo total,e calculou-se a participação de AUP. Para avaliar a relação da contribuição de AUP com sexo, raça/cor e renda per capita, utilizou-se um modelo de regressão linear considerando região, área rural ou urbana e idade como potenciais variáveis de confusão. Verificou-se as interações de sexo com raça e com renda, e de raça com renda, apenas sexo e renda permaneceu no modelo final. Todas as análises estatísticas foram realizadas no pacote estatístico R versão 4.3.2, utilizando a biblioteca survey.
Resultados: A contribuição de AUP na dieta dos brasileiros foi de 16 % (IC95%: 15,7; 16,3), maior no Sul e menor no Norte. E na região urbana (16,8% [16,5; 17,2]) mais elevada que rural (11,3% [10,9; 11,8]). O modelo indicou que a participação de AUP aumenta com a renda (p<0,01), e que esse aumento difere por sexo (p=0,03), sendo mais intenso em homens, culminando em níveis similares aos das mulheres.
Conclusões: A contribuição de AUP na dieta dos brasileiros varia conforme indicadores sociodemográficos e se intensifica em faixas de renda mais alta, especialmente para o sexo masculino.